sexta-feira, 30 de março de 2007

Três Propostas Para a Unesco

Este ano, a Unesco organizou um evento especial pelos 2.550 anos de nascimento do Buda, coordenado pela delegação da Tailândia junto a esta entidade, pelo Pure Land Learning College (da Austrália) e pela World Fellowship of Buddhists (Associação Mundial de Budistas) e a World Buddhist University ( Universidade Budista Mundial). O embaixador vietnamita junto à Unesco veio até Plum Village e me convidou para compartilhar esta celebração.
Assim, no dia 08 de outubro, eu fiz três propostas e disse que apoiaria a Unesco na sua realização. Budismo é algo sobre despertar. Nós nos encontramos numa situação perigosa e nós precisamos de um despertar coletivo. A Unesco pode acelerar este processo. Violência, guerra e aquecimento global têm de ser abordados. Se estamos ocupados demais lidando com pequenos problemas da vida diária, não teremos tempo para nos sentarmos juntos e mudar a situação. A ONU declarou a primeira década do novo milênio a “Década Internacional da Paz e da Não Violência”, em favor das crianças do mundo. Estamos em 2006 e não muito foi feito. Em 1999, a Unesco publicou o Manifesto 2000 com seis pontos que são praticamente idênticos aos Cinco Treinamentos da Plena Consciência do Budismo. Mais de 75 milhões de pessoas assinaram este manifesto, mas assinaturas não são importantes se as pessoas não praticam esses pontos em suas vidas diárias.

A primeira proposta que ofereci foi a de que a Unesco criasse um Instituto de Paz e Não Violência. Existem muitas universidades de paz, mas elas estão mais focadas na pesquisa do que na prática. Nós podemos convidar professores, famílias, comunidades, líderes políticos etc, para vir e aprender instrumentos para praticar de um modo não violento. A Unesco poderia propôr quem iria participar e a nossa comunidade ficaria feliz em disponibilizar nossos professores de Dharma para treiná-los, sem custo. Nós, inclusive, temos um manual, Criando a Verdadeira Paz, que nos foi pedido escrever pelo então diretor geral da Unesco, Frederico Mayor, como preparação à Década de Paz e Não Violência. Isto poderia ser usado pelo Instituto de Paz e Não Violência. Sugeri que o diretor e as delegações permanentes junto à Unesco, assim como seus filhos, participassem do aprendizado e da prática no Instituto. Dessa maneira, eles não fariam apenas um chamado à ação, eles próprios se tornariam a ação. Eu disse à audiência que temos oferecido este tipo de treinamento para policiais, guardas penitenciários, membros do parlamento – por que não para os embaixadores da Unesco? A paz sempre começa consigo mesmo. Em outras palavras, a Unesco deve se tornar também uma Sangha – uma comunidade que pratica a paz conjuntamente – e não apenas discutir e tomar decisões. Dessa maneira, eles podem inpirar outros a fazer o mesmo.

A segunda proposta que eu fiz foi a de que a Unesco deveria sediar um encontro de cúpula dos líderes religiosos cristãos, muçulmanos e judeus para tratar do processo de cura do conflito no Oriente Médio. Nós estamos matando em nome de Deus, da democracia, da liberdade e da civilização. Se eu tivesse de escolher entre o Budismo e a paz, eu escolheria a paz. Por que se fosse para escolher entre o Budismo e a guerra, isto destruiria o Budismo. Vocês não podem matar em nome do Buda. No século XI o Budismo foi perseguido na Índia.E não houve resistência violenta dos budistas. Nós temos de arrancar as percepções erradas para pôr um fim ao conflito. Os professores de Dharma leigos e monásticos, treinados em Plum Village, podem compartilhar práticas de paz e reconciliação, como temos feitos diversas vezes com os grupos de israelenses e palestinos que vêm praticar concosco todos os anos. Sugeri que os líderes religiosos dessas três tradições permaneçam juntas em Paris por vinte e um ou conquenta dias e esbocem uma proposta de paz para os líderes políticos pararem com a destruição no Oriente Médio. A Unesco é uma organização desenvolvida para promover a cultura, educação e ciência. Nós precisamos de uma cultura de paz, uma educação para a paz e uma ciência de paz.

Minha terceira proposta foi a de que a Unesco poderia patrocinar “dias sem carro” globais em cada mês. Nós deveríamos apoiar também o dia anual global sem carro, todo dia 22 de setembro. Eu sugeri que “dias sem carro” podem ser um meio habilidoso de acelerar a tomada de consciência do aquecimento global. Eu disse a eles que em Plum Village, e em todos os seus monastérios, foi estabelecido um dia sem carro por semana e que estamos em processo de migrar para carros mais ecológicos, assim como trabalhando para reduzir nossas emissões de carbono em cinquenta por cento. Convidei a todos os delegados da Unesco que fizessem o mesmo, dirigir menos, ter carros com motores mais eficientes e limpos, para reduzir suas próprias emissões de carbono.

Cada um de nós deveria ser um braço do Buda para renovar a pratica, para que viver com esperança, júbilo e solidariedade, se tornem possíveis em nossa vida. Os Cinco Treinamentos da Plena Consciência são uma espécie de ética global. Cada tradição espiritual os têm à sua maneira. Mesmo que 75 milhões de pessoas tenham assinado o Manifesto 2000, que é baseado nesta ética global, se nós não o realizarmos, nossas assinaturas não ajudarão. Portanto, contruir Sanghas é muito importante. Nós já temos o caminho. Não espere até amanhã. Se há qualquer coisa que você possa fazer, faça-a hoje. Então a velhice será uma fruta deliciosa. O Buda estará sempre lá para nos apoiar e guiar.

PS: Compaixão = solidariedade (ver Nota do Tradutor)

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