sábado, 1 de agosto de 2009

Cinco Treinamentos da Plena Consciência - Nova Versão


Os Cinco Treinamentos da Plena Consciência

Reverência à Vida
Ciente do sofrimento causado pela destruição da vida, eu me comprometo a cultivar o insight do Interser e da solidariedade e a aprender maneiras de proteger a vidas das pessoas, animais, plantas e de todo o planeta Terra. Estou determinado a não matar, a não deixar que outros matem e a não apoiar nenhum ato de matança no mundo, seja na minha maneira de pensar ou no meu modo de vida. Ao ver que as ações que causam sofrimento surgem a partir da raiva, do medo, da avidez e da intolerância – que por sua vez se baseiam no pensamento dualista e discriminativo, cultivarei a abertura, a não discriminação e o não apego a pontos de vista para transformar a violência, o fanatismo e o dogmatismo em mim mesmo e no mundo

Verdadeira Felicidade
Ciente do sofrimento causado pela exploração, injustiça social, roubo e opressão, eu me comprometo a praticar a generosidade no meu modo de pensar, de falar e de agir. Eu me comprometo a não roubar e a não possuir nada que porventura pertença a outros e a compartilhar meu tempo, energia e recursos materiais com aqueles que precisam. Praticarei a observação profunda para ver que a felicidade e o sofrimento dos outros não estão separados da minha própria felicidade e sofrimento. Praticarei para ver que a verdadeira felicidade não é possível sem compreensão e solidariedade – e que buscar riqueza, fama, poder e prazeres sensoriais podem gerar sofrimento e desespero. Estou ciente de que a felicidade depende do meu estado de espírito e não de condições externas e que posso ser feliz no momento presente, bastando me lembrar que já possuo todas as condições para isso. Eu me comprometo a praticar o Meio de Vida Correto de forma a reduzir o sofrimento dos seres vivos na Terra e, especialmente, frear o processo de aquecimento global.

Verdadeiro Amor
Ciente do sofrimento causado pelo má condução da vida sexual, eu me comprometo a cultivar a responsabilidade e a aprender maneiras de proteger a segurança e a integridade dos indivíduos, casais, famílias e da sociedade como um todo. Consciente de que desejo sexual não significa amor e que a atividade sexual motivada pelo desejo irá somente ferir a mim e aos outros, eu me comprometo a não me engajar em relações sexuais sem verdadeiro amor e sem um compromisso profundo e de longo prazo apoiado pela minha família e pelos meus amigos. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para proteger as crianças do abuso sexual e para evitar que famílias sejam desfeitas pela má conduta sexual. Percebo que corpo e mente são um só, eu me comprometo a aprender maneiras apropriadas de cuidar da minha energia sexual e a cultivar a bondade amorosa, a solidariedade, a alegria e a inclusividade que são os quatro elementos básicos do verdadeiro amor. Ao praticar o verdadeiro amor, poderei continuar de maneira mais bela no futuro.

Fala Amável e Escuta Profunda
Ciente do sofrimento causado pelo fala inconsequente e pela minha inabilidade de ouvir os outros, eu me comprometo a cultivar a fala amável e a escuta solidária para aliviar o sofrimento e promover a reconciliação e a paz em mim mesmo e entre as pessoas, grupos religiosos, étnicos e nações. Sabendo que a as palavras podem criar tanto felicidade quanto sofrimento, eu me comprometo a falar a verdade com palavras que inspirem confiança, alegria e esperança. Ao perceber a raiva se manifestando em mim, eu me comprometo a não falar. Praticarei a respiração e o andar consciente para reconhecer minha raiva e olhar com profundidade em suas raízes – especialmente quando se tratar de percepções errôneas ou falta de compreensão do meu próprio sofrimento e o das outras pessoas. Irei falar e ouvir de modo a aliviar o sofrimento tanto em mim mesmo quanto nos outros e a resolver situações difíceis. Eu me comprometo a não espalhar notícias as quais não tenha certeza e a não usar palavras que possam causar divisão ou discórdia. Praticarei a Diligência Correta como um meio de nutrir minha capacidade de compreensão, amor, alegria e inclusividade e também para transformar gradualmente a raiva, a violência e o medo presentes em minha consciência.


Nutrição e Cura
Ciente do sofrimento causado pelo consumo inconsequente, eu me comprometo a cultivar a boa saúde tanto física quanto mental em mim mesmo, em minha família e na sociedade como um todo através da prática de comer, beber e consumir de maneira consciente. Praticarei a observação profunda no que diz respeito ao meu consumo dos Quatro Tipos de Nutrientes, a saber: comida, impressões sensoriais, vontade e consciência. Eu me comprometo a não beber álcool, tomar drogas, praticar jogos de azar ou usar produtos com conteúdo tóxico, como alguns sites de internet, jogos eletrônicos, programas de TV, filmes, revistas, livros e a não me engajar em conversas com conteúdo similar. Retornarei ao momento presente como um modo de estar em contato com os elementos refrescantes, saudáveis e revigorantes em mim mesmo e à minha volta – e não me deixarei arrastar ao passado pelo arrependimento e pela tristeza ou permiterei que a ansiedade, o medo e a avidez me empurrem para longe. Eu me comprometo a não tentar preencher minha solidão, ansiedade ou qualquer outro sofrimento, através do consumismo. Contemplarei tanto o Interser quanto o ato de consumir de um modo que preserve a paz, a alegria e o bem-estar no meu corpo, na minha consciência e no corpo e na consciência coletivos da minha família, da sociedade e do nosso Planeta.

sábado, 16 de maio de 2009

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O que é Plum Village?



Plum Village é o centro internacional da Ordem fundada por Thich Nhat Hanh. É um monastério composto de vários monastérios menores que ficam localizados uns próximos dos outros...Ao todo temos Upper Hamlet/Aldeia de Cima, Son Ha/Templo do Sopé da Montanha, Lower Hamlet/Aldeia de Baixo, New Hamlet/Aldeia Nova, West Hamlet/Aldeia Oeste, Middle Hamlet/Aldeia do Meio. Os únicos que são habitados por monásticos o tempo todo são: Upper Hamlet e Son Ha (por monges) e Lower Hamlet e New Hamlet (por monjas), os outros são ocupados ocasionalmente...Cada monastério é um Centro de Prática e funciona de maneira coordenada com os outros e com atividades semanais conjuntas.

Plum Village, portanto é um complexo formados por Centros de Práticas especializados em organizar retiros para monges, monjas, leigos e leigas. Os retiros acontecem durante todo o ano, com exceção de uns poucos dias - que são os dias de folga para os monásticos...
Os dois períodos do ano mais concorridos são o Retiro de Inverno (4 meses) e o Retiro de Verão (1 mês), sendo que este último é o maior em número de pessoas, consegue aglutinar milhares de pessoas de vários países do mundo, principalmente jovens.

Plum Village também é um centro de difusão do que se convencionou chamar de "budismo socialmente engajado", ou seja, do budismo empenhado na transformação do mundo através da transformação das pessoas e estimulando uma nova cultura de relacionamente entre homens, mulheres e natureza, baseada na solidariedade e na compreensão de que tudo contém o todo (o que Thay chama de interser, interbeing) o que nos torna interconectados e interdependentes com todas as coisas e seres vivos.

Em geral as atividades são dadas em inglês, francês ou vietnamita, sempre dependendo de disponibilidade de tradução. Mas a língua franca é o inglês. Em determinadas oportunidades é possível haver traduções simultâneas para o alemão, holandês, italiano e para o espanhol.

As atividades são variadas e mesmo as atividades mais rotineiras, como a meditaçao sentada e andando, variam de acordo com o dia. Em alguns dias se acorda de madrugada, às 5:00, outros às 6:00 outros e outros dias, como o chamado "lazy day", dia da preguiça em tradução livre, pode-se acordar à hora que quiser e não há nada estipulado, nem as refeições...

Normalmente as refeições (vegetarianas) são feitas com um período de silêncio e depois das refeições tem o trabalho comunitário...de manhã e à tarde...
Algo que chama a atenção de quem vai pela primeira vez é o fato de que sempre que algum sino toca (e eles tocam muito) todos devem parar o que estão fazendo, por alguns segundos, e retornar sua atenção à respiração.
Outras atividades rotineiras são várias dinâmicas de grupo com focos diferenciados: compartilhar de alegrias, resolução de conflitos ou de sentimentos não-saudáveis entre as pessoas, festinhas silenciosas (ou quase), cerimônias do chá, encontros na floresta ou nas salas de meditação ou nos quartos - todas muito leves e sem muita formalidade (a única formalidade é o uso do sino para regular o início, desenvolvimento e o fim das atividades.

Outro detalhe interessante é que Plum Village não é um lugar de estudo, mas de prática. Para aqueles que quiserem estudar sutras e se tornarem versados na literatura budista, Plum Village não é o melhor local. As práticas estão firmemente ancoradas no que há de melhor e profundo da psicologia budista e @s visitantes podem entrar em contato com ela através das diversas atividades de meditação (sentada, andando, trabalhando, comendo, tomando chá, contemplando a natureza etc) e das atividades de partilha de experiências, de dores, de alegrias, amizade e solidariedade - tudo voltado para esse retorno ao nosso eu ( ou ao nosso não-eu) que nos torna capazes de nos transformarmos e transformar as coisas à nossa volta.



Samuel Cavalcante

quinta-feira, 19 de março de 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Meditação da Comida

Este pedaço de pão é um embaixador do cosmos inteiro.

Comer uma refeição juntos é uma prática meditativa. Devemos tentar oferecer nossa presença para cada refeição. Podemos começar a praticar já no momento em que nos servimos, refletindo sobre quantos elementos, como a chuva, o sol, a terra, o ar e amor se reuniram para constituir essa refeição. De fato, através da comida podemos ver que o universo inteiro está sustentando nossa existência.

Ficamos conscientes de toda a comunidade enquanto nos servimos e devemos pegar apenas aquela quantidade que é necessaŕia para nós. Antes de comer, convidamos o sino a soar por três vezes, desfrutamos da nossa respiração e praticamos as seguintes cinco contemplações:

- Esta comida é uma dádiva da terra, do céu, de numerosos seres vivos e de muito trabalho duro;
- Que possamos comer com plena consciência e gratidão para que mereçamos receber o alimento em nosso corpo;
- Que possamos reconhecer e transformar nos formações mentais não-saudáveis, especialmente nossa avidez, e aprendamos a comer com moderação;
- Que possamos manter viva a nossa solidariedade comendo de modo a reduzir o sofrimento dos seres vivos, proteger nosso planeta e impedir o processo de aquecimento global;
- Aceitamos esta comida como uma maneira de nutrir nossa fraternidade, fortalecer nossa comunidade (Sangha) e alimentar o nosso ideal de servir a todos os seres.

Devemos comer com calma, mastigando bem cada porção, no mínimo 30 vezes, até que a comida se liqüefaça. Fazer isso ajuda o nosso processo digestivo. Vamos aproveitar cada pedaço de nossa comida e a presença de nossos irmãos e irmãs de dharma à nossa volta. Vamos nos estabelecer no momento presente, comendo de tal forma que a solidez, a alegria e a paz sejam possíveis durante a refeição.

Ao comermos em silêncio, a comida se torna real com a nossa plena consciência e ficamos totalmente atentos ao processo de nutrição acontecendo. Para aprofundar nossa prática de comer com plena consciência e alimentar a atmosfera de paz, permanecemos sentados durante o período de silêncio. Depois de vinte minutos de silêncio, convidamos o sino a tocar novamente duas vezes. Nesse momento, podemos conversar algo saudável como nossos amigos e começar a nos levantar da mesa.

Ao finalizar a refeição, dedicamos alguns momentos para tomarmos consciência de que acabamos de comer, de que o nosso prato está vazio e de que nossa fome está saciada. Assim, enchemo-nos de gratidão ao percebermos como somos afortunados por termos uma refeição para comer, sentimento que nos apóia no nosso caminho de amor e sabedoria.

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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Como praticar os Três Toques da Terra

Como praticar os Três Toques da Terra:

Em pé respire conscientemente três vezes. Leia o Primeiro Toque da Terra - uma boa alternativa é ter o texto gravado, assim é mais fácil se concentrar nas palavras e ter as mãos livres e relaxadas. Depois de ouvir ou ler o texto junte as palmas da mãos, eleve-as juntas para perto da testa e depois abaixe-as lentamente e sempre juntas, passando-as próximo da boca e do coração (simbolizando as ações da mente, do corpo e da fala) e, sem se desolocar, ajoelhe-se, ponha a sola dos pés para cima, incline-se (apoiando-se nas mãos) até que a testa encoste no chão (se não conseguir não tem problema). Depois vire as palmas das mãos para cima, ao lado da cabeça, relaxe e pratique mais três respirações conscientes, entregando todo o peso de seu corpo e de sua mente, todas as atribulações e preocupações à nossa Mãe Terra.

Após as terceira respirações ponha-se de pé novamente (e sem se deslocar) e prepare-se para o próximo Toque.

Esta é uma prática bastante utilizada pela tradição do ven. Thich Nhat Hanh como meio de nos tornarmos mais conscientes da nossa herança, dos nossos ancestrais e da nossa conexão com todas as formas de vida.

Ao tocar a Terra nos beneficiamos da sua solidez, energia e estabilidade e por sua vez entregamos a seus cuidados todas as nossas preocupações, raiva, atribulações, ansiedades e medo.

domingo, 30 de novembro de 2008

Colegiado Buddhista Brasileiro - Comunicado

Colegiado Buddhista Brasileiro

Comunicado 001/2008 - Sobre Dana e a Orientação de Dharma


Estimados praticantes, estudiosos e simpatizantes buddhistas,


O Colegiado Buddhista Brasileiro (CBB), entidade voltada para o
favorecimento do diálogo entre as tradições buddhistas e o mais
correto e saudável exercício de entendimento sobre os fundamentos do
Dharma no Brasil, gostaria de apresentar a todos os interessados sua
posição acerca de questões relevantes que têm sido ultimamente
levantadas por diferentes pessoas ao CBB sobre a natureza do
exercício de Dana e a real condição de autoridade na orientação do
Dharma por diferentes monásticos ou estudiosos seculares.

Este comunicado, no entendimento da diretoria fundadora do Colegiado,
se faz necessário neste momento devido ao constante fluxo de dúvidas
apresentadas diretamente ao CBB referentes a episódios associados ao
exercício de eventos, cursos ou práticas buddhistas, onde a própria
competência de conhecimento ou experiência na orientação buddhista
por parte dos organizadores e o modo de solicitação dos recursos de
contribuição para tais eventos são questionados.

O CBB apresenta suas considerações sobre o assunto sem, no entanto,
pretender manifestar-se de forma legisladora ou julgadora em relação
à liberdade de atuação das escolas e centros buddhistas tradicionais,
ou de estudiosos e pesquisadores não-buddhistas que pretendam se
posicionar sobre o tema buddhista de forma acadêmica ou histórica.

Nosso objetivo, muito mais simples, é apenas esclarecer aos
simpatizantes e praticantes pouco experimentados sobre os fundamentos
do exercício ético e moral no buddhismo, deixando a cada um a
responsabilidade de ponderar, analisar e atuar da forma mais
consciente e amadurecida possível no momento em que irão decidir
sobre sua participação em eventos e práticas, ou filiar-se a grupos e
espaços de Dharma.

Para tal, o Colegiado Buddhista Brasileiro apresenta as seguintes
argumentações:

I. Sobre o exercício de Dana

1. O exercício de Dana (Generosidade, Doação, Apoio), na tradição
buddhista, representa essencialmente a ação consciente e atenta de
ajuda e contribuição (seja material, de tempo ou outras) para que o
Dharma possa ser estudado e exercido sob condições úteis e
abrangentes a todos. Em Dana temos não somente a ação de ajuda e
proteção (física, psicológica ou social) a pessoas em necessidade,
mas também a ação justa e honesta para que o Dharma seja divulgado
sob as bases tradicionais da ética buddhista, na forma e apoio às
instituições e seu corpo monástico ou dos centros e espaços de
prática.

2. É preciso fazer distinção entre monges solicitarem contribuição e
centros cobrarem por atividades. Monges vivem de doações, são
sustentados pelo mosteiro, e não deveriam pedir dinheiro em troca de
ensinamentos. Centros atuam de forma diferente; sendo espaços sem
vínculo formal com as regras monásticas (e muitas vezes sustentados
por praticantes seculares), eles dependem de uma organização
financeira onde as contribuições servem para favorecer as condições
materiais dos professores e do próprio ambiente de estudos, os quais
ali estão para facilitar o ensino do Dharma.

3. Assim, é igualmente necessário fazer a distinção correta entre um
centro solicitar contribuição para realizar retiros, cursos etc (algo
perfeitamente compreensível em relação às necessidades de despesas),
e monásticos que porventura venham a pedir dinheiro. Um monge adota
um estilo de vida e pode alertar as pessoas sobre o Dana, mas as
pessoas não oferecem Dana para o monge ensinar, e sim para permitir
que o monástico possa se manter na sua condição de monge ou monja. O
dinheiro, portanto, não é dado ao monge pessoalmente, e sim à
instituição buddhista. O Buddhismo não faz barganhas com o Dharma; as
organizações buddhistas não pedem dinheiro em troca da promessa de
sabedoria, cura, iluminação ou qualquer tipo de prêmio espiritual. O
Dana é solicitado (e deve ser conscientemente oferecido) para que as
condições materiais e humanas das instituições possam se manter, e
assim a prática possa sempre ser valorizada.

4. Portanto, os praticantes e estudantes precisam estar atentos ao
fato de que as solicitações de contribuição não podem ser feitas de
forma abusiva ou voltadas para lucro pessoal de monges ou monjas. As
solicitações de contribuição feitas pelos centros devem ser justas e
adequadas às suas necessidades, e jamais podem se constituir
excessivas. Os coordenadores dos centros de Dharma, sendo pessoas
honestamente comprometidas com a prática ética buddhista, sempre
estarão à disposição para facilitar os modos de contribuição dos
praticantes, considerando-se as possibilidades e limites financeiros
de todos.

5. Os praticantes e interessados precisam compreender que são, eles
mesmos, livres para contribuir ou não. Ninguém pode exigir de outrem
participação em eventos buddhistas ou centros de prática; a tradição
buddhista não pratica pressão psicológica, material ou espiritual
para manter pessoas entre seu corpo de estudantes ou praticantes. Ao
mesmo tempo, nenhuma pessoa deveria se subordinar a qualquer espaço
buddhista na pretensão de que, assim agindo, estarão garantindo algum
tipo de retorno espiritual ou benefício místico. A prática do Dharma
ocorre de forma livre, consciente e madura, ou então jamais será
possível.

II. Sobre a correta orientação de Dharma no Brasil

6. Em relação à competência e autoridade daqueles que se apresentam
como professores ou orientadores, é preciso esclarecer que a tradição
buddhista brasileira possui uma profunda capacidade de formação de
monásticos ou leigos dignos de serem respeitados como orientadores
sérios e competentes. Entretanto, é preciso que as pessoas saibam
reconhecer tal competência através da análise e observação atenta das
ações destes professores de Dharma. Estes sempre serão pessoas
coerentes em suas ações éticas e morais. Embora muitas vezes firmes e
exigentes, também saberão ser pacientes e compreensíveis, sem nunca
agir de forma irresponsável e arrogante.

7. O ensino correto buddhista se dá principalmente através do
exemplo, e da dedicação dos seus professores com o próprio
treinamento em Plena Consciência, base dos ensinos de Shakyamuni
Buddha. Neste sentido, pretensos professores de Dharma jamais poderão
agir de forma autoritária, agressiva, preconceituosa ou abusiva em
relação a seus alunos e praticantes. Por outro lado, cabe aos
praticantes reconhecer e respeitar a experiência e sabedoria dos
orientadores – monásticos ou leigos – quando estas virtudes forem
evidentes nas palavras e atos destas pessoas, agindo desta forma com
respeito e atenção aos seus conselhos e posição.

8. Ninguém no âmbito da orientação buddhista deve se
autodenominar "Mestre" ou assim deve ser chamado apenas por envergar
manto monástico ou, sendo leigo, apresentar-se como alguém
entronizado em sabedoria mística ou semelhante. O título de Mestre se
constitui de grande significado, e somente é dado àqueles que
representam no buddhismo o mais digno exemplo de amadurecimento na
prática contemplativa e sabedoria no exercício do Dharma. Os
praticantes precisam ficar atentos a pessoas que vaidosamente se
autodenominam mestres ou líderes místicos, ou que pretendam criar em
torno de si grupos de discípulos sem realmente demonstrar os mais
básicos fundamentos em coerência e comportamento. Professores sérios
tem linhagem clara e um mestre de escola tradicional que os
autorizou; a citação de linhas múltiplas e extensos currículos de
diferentes correntes místicas é um quesito a ser olhado com extremo
cuidado, para não dizer com precaução.


O CBB, ao apresentar tais ponderações, espera ter contribuído para
conscientizar todos os simpatizantes e praticantes, facilitando sua
reflexão atenta no momento em que entrarem em contato com
organizações buddhistas ou monásticos pertencentes às tradições
reconhecidas.

O Colegiado se mantêm aberto a dar mais esclarecimentos a todos os
interessados, através de seu e-mail oficial em: cbb@bodhimandala.com


Em nome do Dharma,

Assina o Sr. Presidente do Colegiado Buddhista Brasileiro,
Prof. Shaku Hondaku (Maurício Ghigonetto)


Assinam os membros da Diretoria Fundadora do Colegiado Buddhista
Brasileiro,
Rev. Shaku Haku-Shin (Wagner Bronzeri)
Monge Meihô Genshô (Petrúcio Chalegre)
Prof. Dhanapala (Ricardo Sasaki)
Prof. Tam Huyen Van (Claudio Miklos)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Cuidando do Ambientalista

Cuidando do Ambientalista

Traduzido do livro "The World We Have", de Thich Nhat Hanh,
por Samuel Cavalcante


Um estudante me perguntou “Existem tantas problemas urgentes, o que devemos fazer?” e eu disse “Escolha uma coisa, faça-a muito profundamente e com muito cuidado, então você estará fazendo tudo ao mesmo tempo”.

Muitas pessoas estão cientes do sofrimento da Terra e seus corações estão cheios de solidariedade. Eles sabem o que é necessário fazer e se engajam em atividades políticas, sociais e ambientais para mudar as coisas. Mas, depois de um período de intenso envolvimento, frequentemente muitos se sentem desencorajados por que lhes falta a força necessária para sustentar uma vida de ação. O intelecto sozinho não é suficiente para guiar uma vida de ação solidária. Para efetivamente influenciar o futuro de nosso mundo, precisamos de mais. A verdadeira força não pode ser encontrada no poder, dinheiro ou nas armas, mas em uma profunda paz interior. Quando temos insight suficiente, não nos deixamos apanhar mais pelas muitas situações difíceis. Podemos sair dessas situações muito facilmente. Quando mudamos as nossas vidas cotidianas – a maneira que pensamos, falamos e agimos – mudamos também o mundo. É importante para nós viver de modo a que, em cada momento, estejamos profundamente nele com nossa verdadeira presença, sempre vivos e alimentando o insight do interser. Sem paz e felicidade, não poderemos tomar conta de nós, nem das outras espécies e nem do planeta. Por isso a melhor maneira de cuidar do meio ambiente é cuidar do ambientalista.

Existem muitos ensinamentos budistas que podem nos ajudar a compreender nossa interconectividade com a Mãe Terra. Um dos mais importantes é o Sutra do Diamante, escrito sob a forma de um diálogo entre o Buda e um de seus mais importantes discípulos, Subhuti. O Sutra do Diamante é o texto mais antigo relativo á ecologia profunda. Começa com uma pergunta de Subhuti: “Se filhas e filhos de boas famílias quiserem gerar a mente mais desperta e realizada, em que eles devem se basear e o que eles deveriam fazer para dominar seus pensamentos?”.

Isto é o mesmo que perguntar “Se eu quiser usar todo o meu ser para proteger a vida, que métodos e princípios eu devo usar?”.

O Buda respondeu “Devemos fazer o melhor possível para ajudar a cada ser vivo a cruzar o oceano do sofrimento. Mas, depois de todos terem chegado às margens da libertação, nenhum ser em absoluto foi carregado até o outro lado. Se você se deixar apanhar pelas idéias de eu, pessoa, ser viv ou tempo de vida, você não será um autêntico bodhisattva”.

Eu, pessoa, ser vivo e tempo de vida são as quatro noções que nos impedem de ver a realidade.

A vida é uma unidade, não precisamos cortá-la em pedaços e chamar este pedaço de “eu”. O que chamamos de eu é feito de elementos não-eu. Quando olhamos uma flor, por exemplo, podemos pensar que ela é diferente das coisas que são “não-flor”. Mas se olharmos com mais profundidade, poderemos ver que tudo no cosmos está na flor. Sem algum dos elementos não-flor – sol, nuvens, terra, jardineiro, minerais, rios e consciência – uma flor não pode existir. É por isto que o Buda ensina que o eu não existe. Temos que descartar todas distinções entre eu e não-eu. Como é que alguém pode proteger o meio-ambiente sem este insight?

A segunda noção do Sutra do Diamante nos recomenda jogar fora é a noção de pessoa, de ser humano. Isto também não é difícil. Ao olharmos para o ser humano, poderemos ver os ancestrais humanos, os ancestrais animais, os ancestrais vegetais e os ancestrais minerais. Poderemos ver que o humano é feito de elementos não-humanos. Usualmente, costumamos discriminar entre humanos e não-humanos, pensando que somos mais importantes que as outras espécies. Mas já que somos feitos de elementos não-humanos, para protegermos a nós mesmos temos que proteger todos os elementos não-humanos. Não existe outro jeito. Se você pensar que Deus criou os seres humanos à sua imagem e semelhança e que Ele criou todos os outros seres para uso deles, então você já está discriminando e tornando as pessoas mais importantes que os outros seres. Ao vermos que os seres humanos são desprovidos de eu, vemos também que ao cuidar do meio-ambiente (dos elementos não-humanos) cuidamos da humanidade. Temos que respeitar e proteger as outras espécies para podermos ter uma chance. A melhor maneira de tomar conta dos seres humanos de modo a que eles fiquem verdadeiramente saudáveis e felizes é tomar conta dos outros seres e do meio-ambiente.

Conheço ecologistas que não estão felizes com suas famílias. Eles trabalham duro para melhorar o meio-ambiente parcialmente por que querem escapar de sua vidas familiares infelizes. Mas se alguém não é feliz consigo mesmo, como poderá ajudar o meio-ambiente? Proteger os elementos não-humanos é proteger os seres humanos e proteger os seres humanos é proteger os elementos não-humanos.

A terceira noção que devemos quebrar é a noção de ser vivo. Pensamos que os seres vivos são diferentes dos objetos inanimados, mas , de acordo com o princípio do interser, seres vivos são compostos de seres não-vivos. Quando olhamos para dentro de nós, podemos ver os minerais e outros seres não-vivos. Por que discriminar contra aquilo a que chamamos de inanimado? Para proteger os seres vivos temos que proteger as pedras, o solo, os oceanos. Antes da bomba ser jogada sbre Hiroshima, existiam muitas bancos de pedra nos parques. Quando os japoneses estavam reconstruindo a cidade eles tiveram a sensação de que aquelas pedras estavam mortas. Então eles as levaram embora e enterraram-nas e trocaram-nas por pedras vivas. Não pense que essas coisas não são vivas. Os átomos estão sempre se movimentando. Elétrons se movem quase à velocidade da luz. De acordo com o ensinamento do budismo, átomos e consciência são eles mesmos a própria consciência. É por isso que essa discriminação entre seres vivos e não-vivos deve ser descartada.

A última noção é a de tempo de vida. Costumamos pensar que nossa vida começa num determinado ponto do tempo e que antes deste momento nossa ela não existia. Esta distinção entre vida e não-vida não é correta. A vida é feita de morte e a morte é feita de vida. Temos que aceitar a morte; ela torna a vida possível. As células do nosso corpo estão morrendo todos os dias, mas nunca pensamos em organizar um funeral para elas. A morte de uma célula permite o nascimento de outra. Vida e morte são dois aspectos da mesma realidade. Precisamos aprender a morrer em paz para que outros possam viver. Esta profunda meditação produz o não-medo, a não-raiva, o não-desespero, as forças que precisamos para nosso trabalho. Nau ausência do medo, mesmo que o problema seja grande não perderemos o controle. Saberemos dar pequenos e firmes passos.

Se aqueles que trabalham para proteger o meio-ambiente olharem profundamente para essas quatro noções, eles saberão como continuar e como agir. Eles terão energia suficiente e insight para ser um bodhisattva no caminho da ação.

Existe muito sofrimento no mundo e é importante que nós estejamos em contato com esse sofrimento para sermos solidários. Mas para sermos fortes, também precisamos abraçar os elementos positivos. Quando vemos um grupo de pessoas vivendo de maneira consciente, sorrindo e se comportando com amor, ganhamos confiança no futuro. Quando praticamos a respiraçao, o descanso, o caminhar e o trabalho conscientes, nós mesmos nos tornamos um elemento positivo na sociedade e inspiraremos confiança em todos que estão à nossa volta. Esta é a maneira de evitar que o desespero tome conta de nós. Também é uma maneira de ajudar as jovens gerações a não perderem a esperança. É muito importante que possamos viver o dia-a-dia de nossas vidas de tal modo a demonstrar que o futuro é possível.

Para produzir uma mudança real na situação ecológica global, nossos esforços devem ser harmoniosos e coletivos, baseados no amor e no respeito por nós mesmos e pelos outros, e pelos nossos ancestrais e futuras gerações. Se a raiva causada pela injustiça é a fonte de nossa energia, iremos provocar mais danos, coisas que iremos nos arrepender depois. De acordo com o budismo, a solidariedade (Karuna, NT) é a única fonte de energia que é útil e segura. Com a solidariedade, nossa energia nasce do insight; não é uma energia cega. Somente sentir compaixão, não é suficiente, temos que aprender a expressá-la. É por isso que o amor tem andar sempre junto com a compreensão. Compreensão e insight nos mostram como agir.

O termo “budismo engajado” foi criado para restaurar o verdadeiro significado do budismo. Budismo engajado é simplesmente o budismo aplicado em nosso dia-a-dia. Se não é engajado, não pode ser chamado budismo. As práticas budistas não devem ser feitas somente nos monastérios, centros de meditação e institutos budistas, mas em qualquer situação na qual nos encontremos. Budismo engajado significa atividades do dia-a-dia combinadas com a prática da plena consciência.

Existe uma real necessidade de levarmos o budismo para a sociedade, especialmente quando você se encontra em uma situação de guerra ou injustiça social. Durante a guerra do vietnã se tornou muito claro que deveríamos praticar o budismo engajado, para que a solidariedade e a compreensão pudessem se tornar parte da vida do povo. Quando sua vila é bombardeada e destruída e quando seus vizinhos se tornam refugiados, você não pode simplesmente continuar a praticar a meditação sentada na sala de meditação. Mesmo que o templo não tenha sido bombardeado e a sua sala de meditação esteja intacta, ainda assim você poderá ouvir os gritos das crianças feridase poderá ver a dor dos adultos que perderam suas casas. Como é que você pode continuar a se sentar lá de manhã cedo, à tarde e à noite? É por isso que você tem que encontrar um jeito de levar a sua prática para a vida cotidiana e sair para ajudar as outras pessoas. Você pode fazer tudo o que você puder para aliviar o sofrimento. Mesmo que você saiba que se abandonar a prática de sentar-se e caminhar com plena consciência, você não será capaz de retomá-la por um longo tempo.

É importante que ao mesmo tempo em que nos tornemos voluntários ou tomemos parte no ativismo ambiental, encontremos uma maneira de continuar nossa prática de respirar, caminhar e falar com plena consciência. Não nos deixemos cair na raiva ou no desespero ao refletir sobre o estado atual do mundo, ou quando confrontados com aqueles que se engajam no desperdício dos recursos naturais. Pelo contrário, podemos fazer de nossa vida um exemplo de vida simples. A escuta profunda e a fala amorosa podem nos ajudar a apoiar a transformação dos indivíduos e da sociedade e nutrir o despertar coletivo que irá salvar nosso planeta e nossa civilização.

Se quisermos ter sucesso na prática da fala amorosa, precisamos saber como lidar com nossas emoções quando elas nos chegam à superfície. Toda vez que a raiva, a frustração ou a tristeza sugirem, temos que ter a capacidade de lidar com elas. Isso não significa lutar com elas, suprimí-las ou expulsá-las. Nossa raiva e nosso desapontamento são parte de nós, não devemos fazer isso. Quando oprimimos a nós mesmos, cometemos um ato de violência contra nós mesmos. Se soubermos como retornar à respiração consciente, criaremos um ambiente de verdadeira presença e geraremos a energia do contato. Com essa energia reconheceremos e abraçaremos nossa tristeza, raiva ou desapontamento com bondade e amor.

Trabalho social e de ajuda realizados sem a prática da plena consciência não podem ser descritos como budismo engajado. Todos os que fazem esse trabalho correm o risco de se perder no desespero, na raiva ou na frustração. Se você estiver realmente praticando o budismo engajado, então você saberá preservar-se a si próprio como praticante, ao mesmo tempo em que faz coisas para ajudar as pessoas no mundo. Budismo verdadeiramente engajado é, antes de tudo, a prática da plena consciência em tudo o que fizermos.

A prática da plena consciência nos ajuda a ficarmos vigilantes sobre o que está acontecendo. Uma vez sejamos capazes de olhar profundamente no sofrimento e reconhecer sua raízes, seremos motivados a agir e a praticar. A energia que precisamos não é o medo ou a raiva ou mas a energia da compreensão e da solidariedade. Não há necessidade de culpar ou condenar. Aqueles que estão destruindo a si mesmos, a sociedade e o planeta não o fazem intencionalmente. A dor e a solidão deles é avassaladora e eles querem escapar. Eles precisam de ajuda e não de punição. Somente a compreensão e a solidariedade no nível coletivo pode nos libertar.

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sábado, 22 de novembro de 2008

Os Sinos da Plena Consciência

Os Sinos da Plena Consciência

(Capítulo do livro de Thich Nhat Hanh "The World We Have",
tradução de Samuel Cavalcante)


Os sinos da plena consciência estão soando. Em toda a Terra, estamos experimentando inundações, secas e grandes incêndios naturais. O gelo está derretendo no Ártico e os furacões e ondas de calor estão matando milhares. As florestas estão desaparacendo rapidamente, os desertos estão se expandindo, espécies estão se extinguindo todos os dias e, mesmo assim, continuamos a consumir ignorando esses sinos que estão soando.

Todos nós sabemos que o nosso lindo planeta verde está em perigo. Nossa maneira de caminhar na Terra exerce uma grande influência nos animais e nas plantas. Mesmo assim, agimos como se nossas vidas cotidianas não tivessem nada a ver com as condições do mundo. Estamos como sonâmbulos, sem saber o que estamos fazendo ou para onde estamos indo. Se podemos acordar ou não vai depender de podermos caminhar com plena consciência sobre nossa Mãe Terra. O futuro de toda a vida, incluindo a nossa própria depende dos nossos passos vigilantes. Temos que ouvir os sinos da plena consciência que estão soando por toda a terra. Temos que começar a aprender a viver de um modo que o futuro seja possível para nossos filhos e netos.

Tenho sentado com o Buda por um longo tempo e o tenho consultado sobre o aquecimento global, e o seu ensinamento é bastante claro. Se continuarmos a viver como temos vivido até agora, consumindo sem pensar no futuro, destruindo nossas florestas e emitindo quantidades perigosas de dióxido de carbono, então mudanças climáticas devastadoras serão inevitáveis. Muito do nosso ecossistema será destruido. O nível do mar se elevará e cidades costeiras serão inundadas, forçando a saída de milhões de refugiados, criando guerras e epidemias de doenças doenças infecciosas.

Precisamos de um tipo de despertar coletivo. Entre nós, existem homens e mulheres que estão atentos, mas isso não é o suficiente; a maioria das pessoas está dormindo. Construímos um sistema que não podemos controlar. Ele se impôs a nós e nos tornamos seus escravos e vítimas. Para a maioria de nós que deseja ter uma casa, um carro, uma geladeira, uma televisão etc, precisamos sacrificar, em troca, nosso tempo e nossas vidas. Vivemos sob constante pressão do tempo. Antigamente, poderiamos dedicar três horas para tomar uma xícara de chá, desfrutando da companhia dos amigos em uma atmosfera serena e espiritual. Podíamos organizar festas para celebrar o desabrochar de uma orquídea em nosso jardim. Mas hoje não podemos mais fazer tais coisas. Dizemos que tempo é dinheiro. Criamos uma sociedade na qual os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e na qual ficamos tão emaranhados em nossos próprios problemas imediatos que não temos mais condições de estar atentos ao que está acontecendo com o resto da família humana em nosso planeta terra. Na minha mente eu vejo um grupo de galinhas numa gaiola disputando um punhado de grãos, sem se darem conta de que em poucas horas irão todas ser mortas.

Os povos da China, Índia, Vietnã e outros países em desenvolvimento ainda estão sonhando o “sonho americano”, como se esse sonho fosse o objetivo absoluto da humanidade – todo mundo tem que ter um carro, uma conta bancária, um celular, uma televisão, só para si. Em vinte e cinco anos a população da China será de 1,5 bilhões de pessoas e se cada uma quiser dirigir seu próprio carro, ela precisará de 99 milhões de barris de petróleo por dia. Mas o mudo só produz 84 milhões de barris por dia. Então, o sonho americano não é possível para os povos da China, Índia ou Vietnã. O sonho americano não é mais possível nem mesmo para os próprios americanos. Não podemos continuar a viver dessa maneira. Não é uma economia sustentável.

Temos que ter um outro sonho, o sonho da fraternidade, da bondade amorosa e da solidariedade. Este sonho é possível aqui e agora. Temos o Dharma, temos os meios e temos sabedoria suficiente para sermos capazes de vivermos esse sonho. A plena consciência é o coração do despertar, da iluminação. Praticamos a respiração consciente para sermos capazes de estar aqui no momento presente de modo a reconhecer o que está acontecendo em nós e em torno de nós. Se o que está acontecendo dentro de nós é desespero, temos que reconhecê-lo e agir imediatamente. Talvez a gente não queira se confrontar com essa formação mental, mas é uma realidade, e temos que reconhecê-la para podermos transformá-la.

Não precisamos afundar no desespero por causa do aquecimento global; podemos agir. Só assinarmos uma petição, um abaixo-assinado, não vai ajudar muito. Ação urgente tem que ser feita nos níveis individual e coletivo. Todos nós temos um grande desejo de sermos capazes de viver em paz e em uma sociedade ambientalmente sustentável. O que a maioria de nós ainda não tem são maneiras concretas de fazer do nosso compromisso de viver de forma sustentável uma realidade de nossa vida no dia-a-dia. Não nos organizamos para tal. Não podemos apenas culpar os governos e as corporações da indústria química que poluem nossa água de beber, pela violência em nossos bairros, pela guerra que destrói tantas vidas. Já é tempo de cada um de nós acordar e tomar uma atitude em nossas próprias vidas.

Nós testemunhamos a violência, a corrupção e a destruição à nossa volta. Todos sabemos que as leis que temos não são fortes o bastante para controlar a superstição, a crueldade e os abusos de poder que vemos diariamente. Somente a fé e a determinação podem impedir que caiamos em um profundo desespero.

O budismo é a mais forte forma de humanismo que temos. Ele nos ajuda a aprender a viver com responsabilidade, solidariedade e amor. Cada praticante budista deveria ser um protetor do meio ambiente. Temos o poder de decidir o destino de nosso planeta. Se acordamos para nossa situação, haverá uma mudança na nossa consciência coletiva. Temos que fazer algo para despertar as pessoas. Temos que ajudar o Buda a despertar as pessoas que estão vivendo em um sonho.

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