segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Começos da Ordem do Interser

Eu sempre vivi como uma monja - comendo comidas simples, tendo apenas algumas poucas roupas, não usando cosméticos e não tendo dinheiro no banco. Eu até doei o colar e os braceletes de diamante, dados por meus pais, a um projeto para os pobres. Com a idade de vinte anos, eu sabia que, um dia, eu iria raspar minha cabeça e me juntar a uma ordem de monjas budistas. Em 1960, Thây Thanh Tu, Thây Tri Quang e Thây (Thich) Nhat Hanh, todos eles, aconselharam-me antes de ser ordenada, mas em 1963 Thây Tri Quang me encorajou a me tornar uma monja. Perguntei a Thây (Thich) Nhat Hanh e ele me disse que os preceitos para monges e monjas, formulados há 2500 anos atrás, precisavam ser renovados. Ele me mostrou então 14 novos preceitos que ele tinha escrito e que, na sua opinião, carregavam dentro de si os mais profundos ensinamentos do Buda e se encaixariam melhor à nossa época. Ele também me disse que me indicaria qual a melhor época para me tornar monja. Mas, naquele momento, ele convidou seis de nós, líderes da Escola da Juventude Para o Serviço Social, a receber formalmente os 14 preceitos.

No dia 05 de fevereiro de 1966, um dia de lua cheia, Thich Nhat Hanh ordenou os primeiros seis membros da Ordem Tiep Hien, a Ordem do Interser. Esta Ordem foi criada por Thây para ajudar a trazer o budismo diretamente para arena dos problemas sociais, num tempo em que a guerra se espalhava e os ensinamentos do Buda eram urgentemente necessários. Ele propôs que a Ordem fosse composta de monges, monjas, leigos e leigas e disse a nós seis que éramos livres para escolher se preferíamos viver e praticar como monásticos ou como leigos. As três mulheres escolheram viver celibatariamente como monja, embora não tivéssemos raspado a cabeça. Os três homens escolheram casar e praticar como budistas leigos. Entre nós três, mulheres, estava Nhat Chi Mai, que se imolou, pondo fogo em si mesma, pela paz, apenas um ano depois.

A ordenação foi uma celebração maravilhosa. Cada um de nós recebeu uma lâmpada na qual Thây escreveu na antiga caligrafia chinesa "Lâmpada do Mundo", "Lâmpada da Lua Cheia", "Lâmpada da Sabedoria" etc. Durante a cerimônia, nós nos comprometemos a estudar, praticar e observar os Catorze Preceitos da Ordem do Interser. Desde aquele dia, tenho sentido que esses preceitos são o meu professor principal, especialmente quando tenho estado sob stress e sem saber a melhor maneira de agir. Estes são os Catorze Preceitos:

Os Catorze Treinamentos da Plena Consciência

As condições requeridas por Thây Nhat Hanh para aqueles formalmente ordenados com ele era o de praticar ao menos 60 dias de Plena Consciência por ano e praticar com uma comunidade de amigos. Mesmo quando estou muito ocupada, eu me renovo a cada semana com um Dia de Plena Consciência no templo da nossa Escola para a Juventude, da manhã de sábado à manhã de domingo. Eu sempre vinha carregada de preocupações e resposnsabilidades urgentes, mas depois de um momento, eu podia me acalmar um pouco e parar até os meus mais ansiosos pensamentos. Eu tentava habitar com plena consciência em cada ato, começando por trazer o meu saco de dormir no quarto, fervendo alguma água para o banho e pondo minhas roupas de meditação. Então eu praticava meditação caminhando sozinha na floresta, apanhando flores e talos de bambu para os arranjos da sala de meditação. Depois de três horas vivendo firmemente em cada ato consciente e liberando minhas preocupações, eu começava a me sentir renovada. E, então, nós seis nos juntávamos para recitar os preceitos e cantar o Sutra do Coração. Depois, compartilhávamos o chá e nossas experiências da semana passada, jantávamos silenciosamente e praticávamos a meditação sentada antes de irmos para a cama. Nós meditávamos juntos de novo de manhã cedinho. Durante o tempo individual, antes e depois da meditação da tarde e do próximo dia, eu, às vezes tinha de reassumir meus trabalhos urgentes trabalhando sozinha na minha sala, mas sempre de um modo plenamente consciente.

Um dia, Nhat Chi Mai disse a mim, " Nós somos uma Ordem tão nova que a Igreja Budista não nos aceita como monjas". Eu a confortava dizendo "Não se preocupe.Nós não precisamos da aceitação deles. Fomos ordenadas por Thây por que queríamos seguir os Catorze Preceitos. Outros podem nos ver como leigas, monjas ou o que quer que seja. O que é importante é que nós praticamos os preceitos como se eles fossem diretrizes para lidar com nosso caminho de serviço e nos ajudar a transformar nossas tendências negativas, como o fanatismo, estreiteza, raiva e aversão". De fato, ao continuarmos nossa prática sinceramente, muitos dos monges superiores começaram a nos apreciar. Apesar deles não nos reconhecerem como monjas, eles nos tratavam com igual respeito.

Hoje, milhares de amigos na Europa, América do Norte, Austrália e Ásia conhecem e praticam esses Catorze Preceitos, apesar da maioria não ter tido a oportunidade de recebê-los formalmente de Thây. Eu sempre aconselho aos que desejam praticar os preceitos a organizar uma sangha, uma comunidade de amigos, para recitar os preceitos a cada mês e compartilhar suas experiências de viver os preceitos. Se agirem assim, eles já são membros da comunidade extendida da Ordem do Interser.

Irmã Chân Không - Learning True Love: How I Learned and Practiced Social Change in Vietnam
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