sábado, 18 de novembro de 2006

Todos Necessitamos do Vinaya

TODOS NECESSITAM DO VINAYA

MODOS DE VIDA BUDISTAS: REFLEXÕES

EVERYONE NEEDS VINAYA:
REFLECTIONS ON BUDDHIST LIFESTYLES
por/by Santikaro Bhikkhu
tradução: Samuel Cavalcante



Vinaya é um termo bem conhecido nos países Budistas como a disciplina ou o extenso conjunto de regras que os monges seguem ou deveriam seguir. Assim como muitos outros aspectos do Budismo predominante, este entendimento comum não é nem errado nem suficiente. Ele esquece importantes aspectos que podem ser encontrados nos ensinamentos do Buda e, consequentemente, diminui a nossa habilidade de viver uma vida Dhâmmica enquanto leigos ou monásticos. Neste ensaio, explorarei alguns desses aspectos menos conhecidos do Vinaya que, acredito, irão esclarecer e ajudar a preencher importantes aspectos da vida moderna para os budistas da Ásia e do Ocidente, quer sejam estudantes leigos ou monásticos ou "nunks".(1)

Neste ensaio, explorarei ainda o significado e a importância do Vinaya de maneira mais ampla na tradição budista, enfatizando sua aplicabilidade hoje no interior das sociedades ocidentais pelos "budistas convertidos" que lidam com modernidade e pós-modernidade, e em sociedades budistas tradicionais que estão tentando chegar a um acordo com as rápidas mudanças da modernização. Esta discussão valorizará o Vinaya leigo, um conceito comumente obscuro. Começarei por olhar as limitações do entendimento tradicional do Vinaya, mesmo que não saibamos o quão antigas muitas "tradições" são. Algumas têm menos de cem anos e outras foram uma resposta ao imperialismo europeu. Muito poucas advêm dos primeiros séculos da tradição. Depois eu irei propor uma nova maneira de entender o Vinaya - aquele enraizado no Budismo original e nos ensinamentos dos Suttas Páli. Isto abre a possibilidade de abandonar algumas "tradições" para retornar "à tradição". (2)

Após isso, irei sugerir algumas linhas gerais sobre como o Vinaya pode ser posto em prática hoje em dia, tanto pelos leigos como pelos monges e monjas. Um ponto central deste ensaio irá discutir as áreas de nossas vidas com as quais um Vinaya estendido terá que lidar. Para demonstrar as perspectivas e a abordagem sugeridas, irei me delongar em uma dessas áreas, que diz respeito à tecnologia digital moderna. Devido ao pequeno espaço disponível, não poderei me aprofundar em outras áreas. Alguns critérios de avaliação da eficácia desta abordagem também serão descritos.

A principal tese deste ensaio é o de que o Vinaya é necessário, pois o Dhamma requer sua proteção, apoio e estrutura. Isto se aplica a todos, não apenas aos monásticos. Espero que os budistas leigos aceitem os desafios postos pelo Vinaya leigo e que as e os monásticos atualizem seu entendimento e reformem suas práticas do Vinaya monástico. Abaixo, não me permitirei dizer aos outros budistas como viver e o que fazer. Já existe diversidade demais para alguém fazer isso. Temos de exercitar com nossas famílias, colegas e companheiros de prática, de acordo com as circunstâncias da nossa vida. Estas reflexões podem nos ajudar. Como eu espero ampliar este ensaio posteriormente, os leitores são convidados a considerar as ideias e perspectivas aqui sugeridas como em evolução. Sua participação ativa, comentários, sugestões e referências serão muito bem vindas.

Algumas Limitações "Tradicionais"

Originalmente, não havia a necessidade de recitar um "Código disciplinar" (Vinaya-panyati) por que os primeiros grupos de monges eram extremamente motivados a seguir o caminho da vida espiritual, de forma honesta, madura e simples. Muitos atingiram a realização rapidamente. Quando alguns monges mais antigos sugeriram ao Buda que ele criasse regras, ele se recusou num primeiro momento. Somente quando a Sangha cresceu em quantidade e se espalhou geograficamente foi que a qualidade dos monges se deteriorou. À medida que algumas pessoas de má reputação entravam e logo se comportavam mal - por exemplo, a infame gangue dos seis - o Buda começava a criar "regras" (literalmente, "treinamentos", sikkhapada). Esses treinamentos têm um importante lugar nas vidas dos praticantes sinceros, especialmente aqueles menos assentados e maduros, mas é somente para isso que existe o Vinaya?

Entender o Vinaya como um mero conjunto de regras, algumas delas legalistas ou desatualizadas, ou até mesmo sexistas, não é de todo correto. Apesar dos treinamentos individuais (sikkhapada) possam ser vistos como regras que os monges devem seguir, eles são sempre expressões de princípios profundos. Este é um ponto frequentemente esquecido. Seguir cegamente as "regras" não poderá nunca ser o caminho liberador do Buda e poderá até mesmo colocar o praticante em conflito com o Dhamma, pois trata-se de mera silappataparamasa (jogo estúpido de preceitos e práticas), um dos Dez Grilhões que nos prendem à existência cíclica. Todos precisamos de um Vinaya que expresse os mais profundos princípios coerentes com o Dhamma.

Gastarei algum tempo elaborando este ponto pelas seguintes razões:

* Tenho sempre ouvido falar do Vinaya monástico "como regras a serem seguidas" mas, apesar disso, realmente segui-las é frequentemente secundarizado.
* Frequentemente, o Vinaya é levado a sério apenas quando as regras são reforçadas por pressões sociais e sancionadas por mecanismos de aprovação e apoio material. Quando, por exemplo, monges vivem em países estrangeiros e o contexto usual para manter estas regras é ausente, elas tendem a cair, a menos que os princípios e racionalidade por trás dos treinamentos tenham sido internalizados por cada monge.
* No sentido contrário, a sociedade pode usar essas "regras" para controlar os monges e usá-los para fins não Dhâmmicos, como legitimar regimes corruptos e lavar ("abençoar") ganhos desonestos.
* Ter mais regras é uma das mais comuns justificativas da superioridade dos monges sobre os leigos, uma atitude mais desejável em sociedades feudais do passado do que em sociedades democráticas modernas. (3)
* O Vinaya entendido como um conjunto de regras, geralmente deixa de fora os praticantes leigos, o que implica em eles não terem ou não necessitarem de Vinaya.
* Quando seguir as regras causa stress ou sofrimento, elas são muitas vezes abandonadas. Então, o bebê é jogado fora junto com a água do banho.
* Quando a necessária estrutura de suporte é abandonada, esquecida ou ignorada, a prática do Dhamma mais sutil se torna mais fraca e mais difícil de sustentar.
* Se o Dhamma e o Vinaya se enfraquecem, lutas em torno do treinamento budista e mais sofrimento persiste.

A situação resumida aqui trata de um importante aspecto da deterioração do monasticismo budista em quase toda sociedade budista tradicional. Mal o monasticismo budista se enraizou no Ocidente e tal situação já se desenvolveu. O ambiente cultural lá é diferente de quando o budismo se instalou no Sudeste da Ásia, China e Tibete. O Ocidente não tem mais a cultura centrada na vila, a economia agrária e a política feudal que um dia nutriu o budismo asiático desde o seu início. Até hoje, aos leigos educados, que têm ensinamentos mais abertos e papeis de liderança dentro dos grupos budistas, ainda lhes faltam, geralmente, o Vinaya não escrito da tradição budista asiática. O que eles têm é muitas vezes tirado das tradições judaico-cristãs e greco-romanas. Monges com menos influência, frequentemente se encontram como peixes fora d'água numa cultura que não sabe ainda, se é que um dia saberá, o que fazer com eles. Para o bem estar de ambos, um adequado entendimento e prática do Vinaya é essencial.

Entender o que previamente ocorreu na Ásia é necessário para os budistas do ocidente que buscam seus caminhos em meio à modernidade. Por seu turno, os budistas da Ásia precisam entender como o Vinaya se trivializou (se tornou superficial) para assim poder corrigir e melhor adaptar a antiga tradição do Vinaya às complicadas mudanças que estão transformando todas as sociedades asiáticas e as instituições budistas nelas contidas, mesmo quando as hierarquias monásticas tentam enfiar suas cabeças nas areias do passado.

Vinaya e Dhamma inter-existem

Para reavaliar o significado, o objetivo e o valor do Vinaya, especialmente nestes tempos modernos e pós-modernos, é valioso lembrar que o próprio Buda falou mais sobre "este Dhamma-Vinaya" do que "este ou meu sasana (mensagem, ensinamento, religião)." Enquanto nos acostumamos a ver esta tradição como costumes, instituições, hierarquias, edifícios monásticos, crenças e outros constituintes comuns da "religião", o Buda não os enfatizou e existem boas razões para crer que ele desencorajou muitas delas. Ao contrário, ele encorajou um jeito de olhar a vida e, consequentemente, viver a vida que, proclamava ele a partir de sua própria experiência, conduz à cessação do sofrimento. A vida centrada no Dhamma.

A maravilhosa palavra "Dhamma" é intraduzível. Pra começar, podemos entendê-la a partir de 4 aspectos primários. Dhamma como "Natureza": inclui tudo, criado e não criado. É a realidade natural na qual vivemos e estamos simultaneamente. Dhamma enquanto "Lei Natural": são os princípios naturais descobertos através da exploração das nossas mentes, relações com outros e desse mundo natural. Esta é a verdade fundamental que está sempre disponível para nós e que governa toda a natureza. Dhamma enquanto "Dever Natural": são os princípios e diretrizes correspondentes para vivermos em harmonia com estas realidades e suas leis naturais. Fundamentalmente, é o dever de viver sem sofrimento. Finalmente, Dhamma são os "Frutos Naturais": frutos de como o direito acima é vivido. Quando vivemos sabiamente e não egoisticamente, o resultado é a paz interior e a alegria irradiante. Quando são vividos de maneira tola ou escorregadia, o resultado é conflito interior, tensão, tristeza e aflição emocional. (4)

O Dhamma pode ser comparado com a casca de uma doce e naturalmente amadurecida manga. É muito rica e suculenta, deliciosa e agradável, refrescante e nutritiva. Mas até hoje, nenhuma manga produziu o seu doce interior sem uma pele. A pele dá proteção para a semente e para a carne e fornece a estrutura que ajuda a que ela tome forma. O papel da pele da manga é semelhante ao papel que o Vinaya cumpre em relação ao Dhamma. Assim como a carne doce da manga não pode existir sem a pele, o Dhamma não pode florescer sem um Vinaya apropriado. Como também a pele da manga, sem carne dentro, não é nem apetitosa nem nutritiva, o Vinaya sem Dhamma não é Budismo.

Muito Mais que Meras Regras

Mesmo que traduzir Vinaya como "disciplina" possa ser aceitável em certos aspectos, algo vital é perdido. Ajahn Buddhadasa apontou que existe um verbo cognato, vinayye, que significa "remover ou levar de". De fato, este verbo tem um importante lugar em vários suttas importantes.(5) No Sutta sobre o Anapanasati (plena consciência no respirar) e em ambos Suttas sobre o satipatthana (fundações da plena consciência), que juntos contêm os mais importantes ensinamentos de Buda sobre meditação, a cláusula "remover a avidez e a aflição com relação ao mundo" aparece em relação a cada fundação da plena consciência. É encontrado também em muitos outros Suttas que falam da plena consciência do corpo e das quatro fundações. Esta cláusula poderia ser também construída como "libertação das ideias que nos levam para além dos aspectos positivos e negativos do mundo".(6)

A partir deste fato textual, Ajahn Buddhadasa concluiu que o último significado e objetivo do Vinaya é nos conduzir para fora de ou remover (vineyya) o poder da negatividade e positividade, ou seja, o poder da ignorância, do desejo, apego e seus resultantes, ganância, raiva e ilusão. Seguir regras, especialmente regras externas, e mais ainda regras impostas, não poderá levar a cumprir com o sublime objetivo. Consequentemente, o Vinaya tem de ser mais do que regras se pretende ser um parceiro necessário do Dhamma.

O mais simples, o princípio operativo fundamental que nos levam ao coração do Vinaya é o não-ferir (avihimsa). Este princípio é inseparável da lei natural da condicionalidade, interdependência e inter-relatividade (iddapaccayata) que governa toda a natureza. Já que nossas vidas são fundamentalmente entrelaçadas com as vidas de outros seres sencientes e por que nós todos buscamos a felicidade e evitamos o sofrimento, o não-ferir é o melhor princípio sobre o qual basear padrões morais e comportamentais. Mais adiante, a sila (moralidade) é definida nas escolas Páli em termos de pakhati (normalidade natural), do qual o aspecto último é o Nibbana. Esta congruência entre o princípio fundamental do Dhamma (iddapaccayata) e o princípio fundamental do Vinaya (avihimsa) é aquilo que naturalmente os vincula harmoniosamente.

A mais comum expressão do Vinaya é o pañcasila (cinco preceitos). São os cinco aspectos fundamentais do não-ferir que são o requisito mínimo para relações saudáveis neste mundo e para qualquer aspiração à solidariedade universal e à paz mundial. Aliás, os vários Vinayas monásticos todos derivam desses pañcasila e, em última instância, do preceito único de não ferir. Entendido sob esta luz, Vinaya e sila, qualquer que seja a formulação, são expressões da sabedoria que vê o mundo como ele é e da solidariedade que nos motivam a viver nele sem causar sofrimento. Este é o Vinaya que pode ser associado com o Dhamma enquanto Dhamma-Vinaya.

Organizando Nossas Vidas Pela Prática do Dhamma

Aqui, eu gostaria de oferecer uma maneira alternativa de descrever o Vinaya. Se refletirmos sobre os exemplos dos monges e monjas do tempo de Buda, o Vinaya original era não-escrito e costumeiro. Era baseado no modo de vida Samana que se desenvolveu no vale do Ganges um ou dois séculos antes do Grande Despertar de Buda. Quando o príncipe Siddharta deixou seu lar e se ordenou a si mesmo, pela "vida santa" (pabbaja), como Bhikkhu, ele se juntou a esse movimento mais amplo no qual vários costumes e estilos de vida foram desenvolvidos para suportar a busca espiritual de vários grupos de ascetas, errantes e monges. Além disso, é crucial notar que estes costumes e práticas faziam sentido no interior da cultura do Vale do Ganges e eram por ela apoiados.

A estes fatos históricos, podemos adicionar as observações descritas nas seções anteriores, para chegarmos a uma outra perspectiva sobre o Vinaya. Vamos resumir da seguinte forma:

* Vinaya é um recipiente necessário para a prática espiritual;
* Vinaya é muito mais profundo do que meras regras e regulações;
* Vinaya tem uma conexão direta com o objetivo espiritual mais elevado e não algo que possa ser deixado de lado em níveis superiores de prática;
* Vinaya é derivado do princípio de não ferir e se aplica a todas as formas de comportamento físico e verbal, incluindo aqueles relativos às relações sociais e ecológicas;
* Vinaya deve ser entendido como diretrizes para um modo de vida que apoia o estudo, a prática, a realização e a partilha do Dhamma.

Agora estamos prontos para re-expressar o significado e objetivos do Vinaya. Minha definição preferida de Vinaya:

Vinaya é o modo de vida budista: a maneira como os praticantes budistas arranjam, organizam e estruturam suas vidas para apoiar o estudo, a prática, a realização e o serviço do Dhamma. Isto cobre todas ações físicas e verbais. Envolve todas as formas de relacionamento: interpessoal, social, econômico político, ecológico, assim como também o relacionamento com o nosso próprio corpo. (7)

Sinto que esta "nova" expressão do Vinaya fará sentido para os budistas modernos e poderá até inspirar sua prática.

Aplicabilidade para Praticantes Leigos

Um dos méritos de expressar o Vinaya dessa maneira é o seu "status neutro"; ele se aplica a todos os membros maduros do Buddha-Dhamma: dos leigos aos monásticos, homens e mulheres e pode ser até aplicado às crianças. Isto é crucial para aqueles dentre nós que buscam um entendimento menos hierárquico e mais igualitário da vida e da prática budista. Tradicionalmente, o status superior dos monásticos - de facto, dos monges, na maioria dos países - tem sido justificado pelo fato deles seguirem mais regras e por isso serem mais puros moralmente. Tenho ouvido repetidamente dos leigos e dos monges sobre como os monges seguem 227 regras enquanto os leigos seguem apenas 05 ou, ocasionalmente, 08. (8) E com o Vinaya tradicionalmente entendido como todas essas regras, ele tem servido de justificativa do status superior dos monges e seus privilégios etc. Se, entretanto, entendemos Vinaya de uma maneira mais ampla, incluindo os praticantes leigos, podemos diminuir tais noções hierárquicas. Isto é necessário para que a prática leiga seja valorizada como merece. Por muito tempo ela tem sido considerada uma prática menor, em parte, por que seus praticantes têm tido um "Vinaya menor".

Ao mesmo tempo, esta perspectiva desafia os praticantes leigos a refletir sobre a escolha de seus modos de vida de uma maneira que tem sido muito negligenciada no ocidente. Nas comunidades tradicionais budistas, os budistas leigos têm um modo de vida relacionado ao Vinaya que foi desenvolvido através da cultura local e que passou através dos costumes e sanções da comunidade. Em sociedades individualistas, modernas, este aspecto tende a ser enfraquecido ou tende a se perder. Acredito que este desafio será confrontado criativamente pelos estudantes ocidentais do Dhamma . De outra maneira, o budismo jamais amadurecerá no Ocidente. Na Ásia, esta perspectiva é necessária para os praticantes leigos do budismo asiático para reverter seu declínio e estagnação.

Para conseguirmos atingir uma visão igualitária que tenha apelo para muitos budistas modernos, todos os praticantes têm de aderir a um padrão igualmente superior. Nós não queremos budistas de segunda classe; portanto, não podemos ter padrões de primeira e segunda classe. Se o Dhamma-Vinaya é um todo inseparável, ter acesso aos ensinamentos e práticas superiores, anteriormente limitada aos monásticos, requer um compromisso paralelo com padrões superiores relativos ao Vinaya. Tais padrões não precisam ser uma imitação dos padrões monásticos em seus detalhes, mas deve preservar os mesmos padrões superiores. De fato, eu conheci muitos homens e mulheres leigos tailandeses que viveram de acordo com padrões impecáveis. Dito de outro modo: falta de cuidado em torno do dinheiro, sexo e poder, e mais outras áreas delineadas acima, irá corromper seus ensinamentos e práticas. Todos os envolvidos serão atingidos, não somente aqueles são descuidados com este requisito. Práticas superiores, como o vipassana, dzogchen e o tantra se tornarão inócuas sem a proteção desejável do Vinaya. Este princípio antigo ainda se aplica, não importa o quão pós-modernos tenhamos nos tornado.

Ademais, podemos ver melhor o Vinaya como uma parceria entre todos os budistas. Nas sociedades modernas, nas quais as escolhas de modo de vida são diversas e aceitas sem questionamento, é necessário entender o Vinaya de um modo que abarque essa diversidade . Ao invés de tomar os monásticos como modelo e considerar os praticantes leigos como símiles secundários ou versões inferiores, podemos levar todos os budistas a considerarem suas necessidades de seguir um estilo de vida à luz da prática e da realização do Dhamma. Então, podemos oferecer diferentes sabores do núcleo Dhamma-Vinaya em um grande buffet do Buddha-Dhamma. Temos de aprender uns com os outros, especialmente nas sociedades complexas de hoje em dia, onde o leigo tem muito mais contato com os sistemas econômicos, político e tecnológico.

Isto também nos dá uma poderosa ferramenta de crítica social. Ao invés de seguir a corrente predominante do consumo auto-indulgente, das rotinas de trabalho exaustivas, e obrigações, os praticantes budistas vivem uma vida alternativa baseada na sua aspiração por libertação espiritual e na "disciplina natural" que esta aspiração faz emergir. Tal crítica será mais flexível que doutrinária, para servir às muitas situações de vida e de trabalho nas quais os budistas modernos se encontram. Além do mais, pode garantir padrões concretos com os quais desafiar a sociedade e encarnar as virtudes que os budistas desposam.

Aplicabilidade para os Monásticos

Os monásticos, especialmente os monges, não podem mais afirmar a priori que eles têm mais conhecimento, prática mais profunda ou vivem mais puramente. A realidade do dia a dia das sanghas monásticas no Golfo do Sião, e em outros cantos desmente este triste fato e brada por uma reforma da educação e da prática do Dhamma-Vinaya. O respeito ganho pelas gerações passadas de dedicados praticantes monásticos foi largamente gasto na maioria das sociedades asiáticas e ainda não foram acumuladas nas culturas ocidentais. Podemos apenas reclamar tal "mérito" da velha maneira: pelo que Buda chamou de "viver correto" (samma-vihara). As perspectivas oferecidas por este ensaio podem ajudar a assegurar que tais reformas são relevantes e efetivas, e não apenas mero ritualismo ou mudanças de fachada. Eu espero que elas ajudem a convencer meus companheiros monges que reformas sérias são necessárias, e o primeiro passo que tem que ser tomado pela maioria.

Esta avaliação do Vinaya pode ajudar os monásticos a reexaminar o Vinaya que eles supostamente seguem. Estão apenas seguindo regras e perdendo o espírito mais profundo do Vinaya? Ou estão em um "jogo de faz-de-conta" baseado em superstição e ritualismo? Será que eles se acomodaram tanto à moderna sociedade de consumo que perderam a trilha toda, apenas seguindo as regras que o grau de convenção social requer deles? Como eles podem encontrar um Vinaya mais harmonioso com suas necessidades espirituais e com a realidade da sociedade na qual vivem? Eles podem flexibilizar seu status e função como parceiros dos leigos nas sociedades democráticas?(9)

Quando falamos de "monges", "monásticos" ou "sangha", coletivamente, geralmente perdemos de vista ou esquecemos a diversidade existente entre indivíduos, comunidades e templos designados por estes termos. De fato, um variado leque de modos de vida pode ser observado, como acontece como nossos amigos leigos. Esta diversidade parece ser um fato consistente da vida moderna; e deverá crescer na medida em que a pós-modernidade avança. Antes de sermos assertivos - e não muito acuradamente – em que todos tomemos o mesmo Vinaya, sugiro que seria útil reconhecer e levar em conta os muitos diferentes estilos de vida que monges e monjas budistas levam. Alguns destes:

* monges que estudam nas cidades;
* monges que habitam pequenas vilas, fundamentalmente ocupados com rituais e a preservação dos costumes locais;
* monges com funções administrativas;
* aqueles seguem as regras de maneira estrita;
* aqueles que sabem vagamente o que as regras são;
* monjas que vivem como cozinheiras e empregadas dos monges;
* monjas que sempre estão longe dos olhos do público, para estar sozinhas e assim poderem praticarem seriamente;
* monges envolvidos em atividades ligadas ao desenvolvimento e à ecologia
* monges que manejam florestas;
* monjas em Taiwan que devem respeitar a relação numérica de sete (monjas) para um (monge);
* monjas em outros lugares que estão lutando com o sexismo, a discriminação, instalações abaixo dos padrões normais e falta de apoio.

Então, reconhecemos que estes diferentes padrões de vida, em algum nível, requerem que mantenhamos o Vinaya de diferentes maneiras. Acredito que isto permitirá uma base para pensarmos mais cuidadosamente sobre como nós, como comunidade e indivíduos, mantemos o Vinaya, em vez de remetermos alguma coisa para o nível da discrição pessoal, costume, hábito, ou, como é mais comum, para denominadores mais baixos.

Dimensões do Vinaya

Nas minhas próprias reflexões sobre esses assuntos, eu repetidamente retorno ao bhikkhu-patimokkha. Apesar disto ser natural para mim como monge, eu acho que ele contém lições para os não monásticos também. De qualquer maneira, o código Vinaya dos monges é uma elaboração sobre os cinco preceitos. Mais adiante, na medida em que libero minhas próprias ideias acerca de como abordar o cumprimento das regras, eu desejaria sugerir uma outra maneira de pensar tanto o estilo de vida monástico quanto o leigo. Eu o farei resumindo os assuntos pertinentes aos modos de vida contidos no Vinaya monástico e imaginando como eles se aplicariam à vida moderna.

Esboçando as áreas que qualquer abordagem completa do Vinaya deve cobrir, eu não tenho a intenção de estipular regras, ou mesmo especificidades, para aqueles que vivem um estilo de vida diferente do meu (monasticismo celibatário). Meu objetivo é dar um quadro de referência para que nós reflitamos acerca dos nossos modos de vida e de como podemos arranjá-los para um melhor suporte à nossa prática do Dhamma e à realização de uma genuína felicidade e sentido na vida. Como um monástico, eu espero que esses aspectos de nosso modo de vida possam inspirar e desafiar criativamente outros. Daí esta tentativa de tornar claro alguns de seus princípios internos.

Mesmo que essas várias dimensões se sobreponham em alguma medida – na mesma medida em que o caminho é um tecido de muitos fatores, assim também o Vinaya - nós podemos distinguir dez áreas ou dimensões.

1. Sexo, Sexualidade e Gênero:

Reconhecendo e respeitando este poderoso instinto - todos esses hormônios! - nós construímos fronteiras claras relativas às relações físicas, sexuais e de gênero. Reconhecendo a sexualidade , mas não sendo indulgentes, aceitando que todos somos seres sexuais sem expressá-lo de maneira manipulativa, perguntamo-nos como podemos promover relações mais sadias nas áreas físicas, emocionais e espirituais de nossa vida. Somos conscientes do gênero, assim esse fato não se torna a base para o desentendimento, preconceito ou opressão. Como podemos usar nossa sexualidade de forma sábia e terna? O que precisamos para estarmos alertas para evitarmos usá-lo de um modo que fira outras pessoas tanto física quanto emocionalmente? Esta discussão compreende não apenas o "sexo oposto", mas todas as preferências e expressões sexuais com as quais entramos em contato nos dias de hoje. Isso também nos remete às muitas imagens da mídia usadas para chamar a atenção e seduzir.

2. Poder, Autoridade, Status e Violência

Estando ou não em "posições de poder" ou renunciando verdadeiramente ao poder político, econômico, sexual, e a outras formas de poder como no ideal original do monge, nós não escapamos do poder e da autoridade. Reconhecendo e respeitando como isto reforça as ilusões do ego de segurança e força das mais diversas maneiras e, novamente, observando a violência que tão frequentemente emerge dessa atitude defensiva, nós renunciamos ao controle político e social sobre os outros. Observando honestamente que a maioria das instituições, incluindo as religiosas, criam suas próprias hierarquias de privilégios e poder, nós repudiamos tal corrupção e compartilhamos qualquer autoridade que seja dada a nós. Nós nos esforçamos arduamente a viver de acordo com os princípios da não violência, do não ferir e não abusar, ou seja, com bondade, solidariedade e apoio mútuo. Imaginamos, entretanto, que algumas hierarquias possam ocorrer de maneira natural e não causem necessariamente sofrimento. Por exemplo, nosso estudo e prática nos dá alguma autoridade entre os outros praticantes e estudantes, assim fazemos o que pudermos para exercer esta autoridade de maneira honesta, aberta e Dhâmmica. O mesmo se aplica à autoridade moral que ganhamos com o nosso modo de vida.

Cada pessoa ocupa uma variedade de posições na vida. Precisamos aprender como usar a autoridade de cada posição de maneira sábia. Não é que os líderes tenham poder e os seguidores não. Líderes estão em débito com os seguidores e são de alguma forma controlados por eles. Todos tem algum poder; existem diferentes tipos de poder nas várias partes de cada situação. Nosso objetivo é usar qualquer autoridade que tenhamos de maneira sábia e generosa. Devemos distinguir aqui entre "poder" como algo exercido sobre e contra outros e "autoridade" como algo dado livremente por outros. O primeiro é coercitivo e fundamentalmente violento, enquanto que o outro não. Assim, nos perguntamos: nossa influência é usada para controlar e levar vantagem? Ou nutrir seu aprendizado e crescimento sem coerção?

3. Necessidades Humanas Básicas (4 requisitos):

Reconhecendo que todos nós temos necessidades materiais básicas, resolvemos satisfazê-las sem descarregar coisas repugnantes no planeta ou na sociedade. Estamos plenamente conscientes de como nossa própria acumulação de riquezas pode engendrar a privação de outros. Nós praticamos a partilha dos recursos que estão à nossa disposição e cultivamos um espírito de dana (generosidade). Especialmente nas sociedades que consideram a propriedade pessoal como sagrada, nós nos comprometemos a reconhecer que tudo pertence ao Dhamma e que nós somos meros administradores.

Monásticos tornaram-se vulneráveis por depender de esmolas, ou seja, da generosidade de outros. Em troca, eles tentam dividir, realisticamente, muito dos seus ganhos materiais, além dos frutos do seu estudo e prática espiritual. A situação não é tão diferente para os leigos mesmo que não seja geralmente aceita. Ora, alimento e outros requisitos têm de ser conseguidos com dinheiro ou cartão de crédito, eles são produzidos por fazendeiros e trabalhadores, empacotados e enviados por outros e vendido a varejo pelos empregados dos supermercados e lojas. Nada vem para nós sem a benevolência de outros. Os estudantes do Dhamma deveriam refletir regularmente sobre isso e agir de acordo.

4. Propriedades e Possessões:

Além das necessidades básicas, nós buscamos adquirir coisas para atingir e proclamar status, gerar conforto e luxúria, entretenimento e distração, encobrir a solidão e buscamos gratificar outras emoções que não têm relação alguma com o objeto material envolvido. Nos dias de hoje, o capitalismo consumista - a máquina da globalização - é baseada nestas não necessidades ou falsas necessidades insalubres. Elas, cada vez mais, provêm nossas vidas de significado e sentido, determinando "quem" nós somos. É muito difícil viver sem muitas "coisas" quando vivemos em segmentos afluentes do mundo; coisas vêm com os aniversários e outras passagens da vida. Observando quantas lutas se passam no mundo, através da história humana, pelos recursos materiais escassos, exploramos uma vida de simplicidade onde somos bem cuidadosos sobre o que temos e tendemos a ter menos do que mais. Como nos preservamos de causarem desordem em nossas vidas e mentes? A que objetivos eles deveriam servir? Como podemos nos tornar responsáveis por eles sem nos apropriarmos deles ou sem sermos apropriados?

5. Riqueza, Dinheiro e Finanças:

Reconhecemos e respeitamos como a acumulação de propriedade, dinheiro e riqueza parece dar segurança aos desejos do ego. Além de tudo o que foi mencionado nos itens 3 e 4 acima, nós somos conscientes de como estes pedaços de papel, metal e plástico, assim como os números na tela, simbolizam sucesso, prestígio, poder e todos os outros valores mundanos aos quais as pessoas comuns aspiram. Nós os usamos até para medir o valor dos seres humanos. O poder ilusório do dinheiro facilmente cultiva a arrogância que não nos deixa perceber o quanto dependemos dos cuidados alheios. Dado o poder desta estranha, simbólica - e supostamente neutra - coisa, como podemos lidar com isso de maneira plenamente consciente? O que é o investimento certo? Que serviços relacionados ao Dhamma podem ser aceitos como legítimos e quais não? Qual o real significado de "dana"?

6. Linguagem, Comunicação e Verdade:

Como seres humanos vivemos num mundo de linguagem, símbolos e cultura. Sem eles nós não podemos pensar ou sonhar. Comunicação nos vincula culturalmente, politicamente, emocionalmente, intelectualmente e espiritualmente com os outros. Aliás, linguagem é um negócio capcioso. Ela nos engana pela sua natureza mesmo quando estamos tentando ser verdadeiros. No mundo, a linguagem é usada para enganar, trapacear, seduzir, insultar e ferir e também para amar, ajudar, aconselhar, ensinar, consolar, encorajar e inspirar. Formulando nossas experiências e insights com palavras, nós facilmente caímos nas armadilhas de estarmos apegados a pontos de vista, mesmo se o insight original foi profundamente verdadeiro. A partir de crenças e opiniões criamos incontáveis disputas. Existem tantos ensinamentos neste campo que os praticantes sérios do Dhamma gostariam de alterar a maneira como os comunicamos para nos aproximar do Discurso do Buda tanto quanto pudermos. Nós fazemos muita força para praticar o silêncio quando, na verdade, somos incapazes de usar o discurso de uma maneira que cure. Com plena consciência, nós nos esforçamos por expressar a verdade, tanto literalmente quanto conotativamente. E encorajamos comunidades de fala correta em torno de nós.

7. Tecnologia:

Instrumentos são algumas das coisas que nos tornam humanos. Frequentemente medimos nosso "desenvolvimento" em termos de avanços de maravilhas tecnológicas que, supostamente, “não voltam mais no tempo". Ficamos boquiabertos por causa dessas geringonças e, correspondentemente, glorificamos os cientistas, engenheiros e outros tecno-padres que os produzem. Com toda essa maquinaria de carvão e vapor, combustíveis à base de petróleo, usinas nucleares e eletrônica, de fato, tornamo-nos poderosos. Outras espécies e ecossistemas primitivos desapareceram, consequentemente. A vida humana tem sido transformada de um modo gigantesco. Libertos dos ritmos naturais das estações e do ciclo solar diário, temos cada vez menos tempo livre. Mesmo se não temos mais stress do que no passado distante, seguramente temos novas formas de stress que a nossa biologia não evoluiu o bastante para lidar. Crescentemente, temos a tecnologia como uma interface entre nós e os outros (o telefone, por exemplo), e entre nossos próprios corpos e mentes (os equipamentos médicos de varredura). Tudo isso vem em conjunto com todos os tópicos discutidos aqui: poder, riqueza, comunicações, e até sexo. Como poderemos usar esses instrumentos maravilhosos sem sermos usados por eles? Como nos asseguramos que eles servem à necessidades espirituais e não apenas a meros fins políticos e econômicos?(12)

8. Entretenimento:

Ajahn Buddhadasa fala do "entretenimento espiritual" como o quinto requisito. Em Suan Mokkh, o Teatro do Entretenimento Espiritual foi construído para suprir a mais importante necessidade humana e, assim fazendo, mostra que o estudo/prática do Dhamma não precisa ser feito sem humor ou alegria. Além disso, a maioria da sociedade brinca consigo própria com entretenimento menos significativo. Uma boa risada agora e de novo, alegria, criatividade, e coisas assim, podem ser usadas apoiar nossa prática e realização ou dificultá-las. O que fazemos quando quando queremos entretenimento ou quando queremos entreter? O quanto dependemos da tecnologia para isso? O quanto permitimos que o conteúdo do nosso entretenimento dê forma a nossos valores e comportamentos, consciente ou inconscientemente? Ao buscarmos o entretenimento para "relaxar", tornamo-nos mais tensos, pela internalização dos valores negativos e comportamentos que observamos no entretenimento? O que realmente nos torna relaxados? Negligenciamos a nossa família ou as pessoas com as quais vivemos por que estamos demasiadamente mergulhados no entretenimento?

9. Relacionamentos, Harmonia, Cooperação e Comunidade:

Poucos momentos de reflexão nos lembram da importância de nossas relações com os outros. Se são parentes e família que nos nutrem, amigos que nos acompanham, ou professores e mentores que nos formam, a vida seria vazia sem eles. Tudo o que recebemos é um livre fluxo de solidariedade, amor cuidado, inteligência e partilhas que provoca naturalmente reciprocidade, se agimos de maneira sábia e não egoísta. Isto toma lugar quando lidamos com os relacionamentos de tal maneira que as obstruções ao livre fluxo são tratadas de maneira correta e não permanecem por muito tempo. Isto se aplica tanto aos relacionamentos no lugar de trabalho quanto em outras situações vivas, como na vida partilhada na comunidade sob todas as suas formas. Abaixo eu direi um pouco mais sobre como o Vinaya é baseado na comunidade. Aqui, notamos que a comunidade é, ela mesma, um campo para o Vinaya, para as escolhas de modos de vida e responsabilidade.

10. Ecologia:

A perspectiva acima se expande para abraçar todas as formas de vida, todos os seres sencientes. A rápida expansão das populações humanas nos forçou a despertar para o fato de que perturbamos outras espécies e para a inabilidade de nossas maravilhas tecnológicas em nos libertar da dependência do resto do mundo natural. Lentamente, estamos re-aprendendo - depois de séculos de arrogância científica - a nos encaixar com outras outras formas de vida no interior de ecossistemas sadios. O budista não deveria se surpreender que o princípio de não ferir se aplica diretamente aqui. A escolha do modo de vida implicada por esta tomada de consciência é profunda. Somente um verdadeiro comprometimento com o bem estar de todos os seres nos empoderará para realizar as mudanças necessárias. Se o Buda estivesse vivo hoje, baseado nas reclamações dos leigos mais preocupados, ele teria elaborado preceitos monásticos relativos à reciclagem, redução de consumo, compartilhamento de carros, usar o transporte público etc. Muitas pessoas se sentem tocadas no que diz respeito às ações de corporações multinacionais, mas hesitam quando o assunto se relaciona com suas próprias vidas.

Um estudo de caso: E-Mail, Internet & Tecnologia de Computadores

Como um exemplo de como a abordagem defendida neste ensaio pode ser aplicada, eu gostaria de focar uma área específica que é tanto moderna como tem um enorme impacto na vida de muitos. Muitas pessoas lamentam a quantidade de tempo que foi tomada por estas novas tecnologias. Ao mesmo tempo, maravilhamo-nos com todas as coisas que elas nos permitem fazer. Ambos, seu assada (encanto delicioso ou tentação) e seu adanava (penalidade desagradável ou punição) são fortes e persuasivas. Se queremos um Vinaya sadio para estes tempos, seguramente temos de estar aptos a fazer isso sem perder de vista a tecnologia dos computadores, a internet e o e-mail.

Primeiramente, precisamos de uma análise do que está acontecendo com essas geringonças e com os sistemas que as produzem e controlam. O principal dano potencial de extrapolar no uso dos computadores, da internet e das mídias em geral, é a distração. Arriscamo-nos a sermos esmagados com informação, confundindo assim a nossa mente e enfraquecendo as nossas habilidades discriminativas, fortalecendo o apego e a raiva, desperdiçando tempo que poderia ser usado de maneira mais produtiva e nos tornando mais cansados desnecessariamente, por causa da excessiva estimulação sensorial. Algumas pessoas buscam na rede diversão, outras informações, outros ambos - "infortenimento". Informação pode gerar segurança, poder sobre outros ou, simplesmente, ser um modo de evitar aborrecimento na realidade física fora da sala onde se fica parado na frente do monitor. Isso se mascara, frequentemente, através do conhecimento.

A tecnologia dos computadores, incluindo e-mail e a internet, pode ser um instrumento útil para o nosso estudo do Dhamma ou para se comunicar com nossos mentores, pares e estudantes. Ao mesmo tempo, ela permite acesso a vastos e praticamente ilimitados mundos de dados, entretenimento, distração e ilusão. Alguns de nós podem escolher fazê-lo sem toda essa tecnologia, em parte para mostrar que a felicidade é possível nesta vida sem conexão com a Internet.

A maior parte dessa tecnologia foi desenvolvida originalmente para fins militares, tanto ofensivos quanto defensivos. Posteriormente foi escorregando para outros cientistas e para o mundo dos negócios. Neste meio tempo, ela chega aos consumidores e é movida cada vez mais pela motivação do lucro do que pelo instinto de combate. Mesmo assim, ambas as formas são altamente agressivas. Sabemos quem ou o que controla esses enormes e complexos sistemas? Podemos saber quem ou o que está monitorando nosso uso? É o fictício "mercado", são as salas de reuniões das corporações ou um conluio de burocratas militares? Eu creio que nós podemos apenas imaginar, até que cada geração tecnológica seja velha demais e que seja considerado seguro revelar, o que quer que sejam esses mecanismos que declaram isso ou aquilo "Top Secret". Acredito que é importante questionar o que significa estar na ponta - como "usuários finais" deste duto tecnológico com pouco controle sobre ele, especialmente se buscamos usá-lo para objetivos dhâmmicos. Em que grau é possível usar esta tecnologia a serviço do Dhamma? Que limites poderão ser fixados para além dos quais apego, aversão e ilusão sejam considerados excessivos na cadeira do usuário? Não basta apenas entoar alguns “Om Mani Padme Hum” sobre o teclado para tornar todo o sistema limpo.

Agora, podemos aplicar uma linha de questões que nos ajude a refletir acerca do nosso próprio uso da tecnologia. Aqueles que escolhem usar esta tecnologia deveriam refletir sobre os seguintes pontos cada vez que a usam:

* Tenho cumprido minhas responsabilidades diárias com a Tripla Joia ou tenho me distraído e dispersado minha energias com esta tecnologia?

* Tenho eu cumprido meus compromissos com a Sangha e com os outros ou esta tecnologia sempre toma precedência?

* Qual é a minha motivação em se relacionar com esta mídia?

* Isto está alimentando minha ignorância, raiva e apego, por me expôr a objetos que os estimula?

* Do que estou desistindo ou o que estou perdendo por usar esta tecnologia? O que está sendo suplantado por ela?

* A minha saúde física está sendo afetada pelo uso desta tecnologia?

* Os benefícios trazidos pelo uso desta tecnologia justifica os seus custos psicológicos, financeiros e ambientais?

Por último, depois de refletir sobre a tecnologia mesma e seu contexto social, e considerando as questões acima, nós começaremos a formular diretrizes gerais, sendo isso ideal com os amigos, para nossas interações com essas ferramentas. Aqui estão alguns exemplos de lembretes de meu uso, baseados na minha própria experiência.

* Não ligue o computador senão depois de fazer a meditação da manhã, orações, alongamentos e outros deveres pessoais. Se por alguma razão você acordar tarde, mesmo assim tome algum cuidado antes de ligar o computador. Repita isso para as práticas da tarde e da noite. Se alguma coisa é tão urgente a ponto de você não cumprir algum dever básico, lembre-se de realizá-lo depois.

* Quando você estiver sonolento e tendo dificuldades em permanecer acordado diante do monitor, desligue-o e vá dormir. Ou dê uma caminhada, faça yoga, respire ... faça alguma coisa que seja mais saudável do que ingerir cafeína ou se entregar a um jogo.

* Você não precisa responder a toda mensagem de e-mail. Escolha o que for importante e dê ênfase à qualidade mais do que à velocidade.

* Calcule o tempo em que você usa o computador para cada objetivo: escrever, ler, manutenção de dados, e-mail e internet (principalmente notícias). Sempre tenha em mente esse tempo e mantenha um equilíbrio.

* Calcule o tempo gasto com e-mails de modo que as outras formas de ler e escrever, especialmente as não digitais, não sejam relegadas.

* Volte ao papel e caneta para cartas, fichamentos, notas, rascunhos etc, pelo menos algumas vezes.

* Leve o notebook para a varanda ou trabalhe embaixo de uma árvore. Ou, pelo menos, abra a janela para deixar entrar alguma coisa do mundo natural, mesmo que sejam alguns insetos...

* Use o e-mail pelo que ele tem de melhor e evite seu abuso. Use-o para trocar informações e documentos, planejar eventos e enviar lembretes. Encontre melhores meios para expressar sentimentos, construindo comunidades, restaurar amizades feridas e ensinar o Dhamma.

* Cada vez que você ligar o seu computador, pense nos vazamentos de petróleo, nas mortes dos salmões nos diques das hidrelétricas e nos outros custos da eletricidade que corre nesses sistemas globais.

* Sempre que a necessidade de upgrade aparecer, lembre-se das pilhas de lixo plástico, silicone, chips, monitores, fios e CDs que se acumulam a cada novo upgrade.

Não é preciso dizer que que esta abordagem somente funcionará com estudantes sinceros, honestos e comprometidos. Nós já consideramos as desvantagens das regras. Quando não existir uma solução fácil, voltaremos para aquela que sempre funciona - prática e meios hábeis. Se alguém está visitando sites pornôs, ou gastando horas navegando perdido na internet, alguma coisa infeliz está acontecendo nele ou nela. A solução não é apenas dizer, "Não olhe pornografia" ou "Não desperdice seu tempo". A pessoa deve entender o que está se passando dentro da sua (dele ou dela) mente.

Vinaya é Parte da Comunidade

Para todos nós, sejamos praticantes leigos ou monásticos, Vinaya, o modo de vida que escolhemos e as nossas diretrizes éticas, precisam ser trabalhadas na comunidade, especialmente aquela mais imediata em que vivemos, trabalhamos e praticamos. Para a mente individualista parece ser possível trabalhar esses temas complexos sozinhos. Afinal, uma parte central da modernidade é a ênfase nas pessoas privadas, nas religiões pessoais e na responsabilidade moral individual. Até aqui, uma outra lição que podemos tirar do Vinaya monástico é que modos de vida são exercitados em comunidade. Nós tanto somos membros de comunidades quanto somos indivíduos, somos indivíduos embebidos em relacionamentos e comunidade. Religião é sempre recebida em algum nível, e portanto é coletiva. Mesmo as anti-religiões da modernidade têm importantes aspectos coletivos. Moralidade e responsabilidade nunca podem ser tirados dos seus contextos e relações sociais.

De fato, Buda incluiu razões de benefício claramente social e coletivo quando ele finalmente concordou em elaborar os treinamentos do Vinaya. São elas:
- pela excelência, beleza e unidade gerais das sanghas monásticas;
- pelo bem estar das Sanghas monásticas e pela vida em harmonia dentro delas;
- para controlar as perturbações causadas causadas por monges desviados ("vergonhosos");
- para encorajar a fé naqueles que não a têm e fortalecê-la naqueles que já têm confiança na Tripla Joia;
- pelo longo estabelecimento do Bom Dhamma (verdadeiro ensinamento);
- para apoiar o Vinaya.(13)

Obviamente, nossos modos de vida nos levam a entrar em contato com outros. Desse modo, os outros têm algum direito de fazer comentários a respeito daquilo que os perturba. Mas o mais importante é que budistas que compartilham um corpo de ensinamentos, valores, princípios , aspirações e práticas já compartilham elementos importantes de um modo de vida comum. Nós fortalecemos cada vez mais nossas comunidades, e também nossas práticas pessoais, quando exercitamos o Vinaya juntos.

Para os praticantes leigos e monásticos, isso incluirá discussões acerca dos contextos e as complicações da nossas vidas. Estudantes sérios do Dhamma precisarão observar e analisar as forças nas suas vidas que podem obstruir a prática do Dhamma. Como as coisas são tão complexas nos dias de hoje, todos poderão se beneficiar das experiências, insights e perspectivas de outros estudantes do Dhamma. À medida que os obstáculos se tornam mais claros, as escolhas que envolvem o modo de vida podem ser feitas para neutralizar cada obstáculo. Algumas dessas práticas ajudarão em mais de um problema. Isto envolverá experimentação o qual, insisto, é melhor feita com a ajuda de outros. Haverá monitoração e avaliação contínua. Por fim, o grupo de suporte nos ajudará a apontar as escolhas que temos feito, principalmente em face do materialismo, individualismo e autocomplacência presentes na cultura predominante.

Um termo páli que se encaixa bem aqui é silasamanyuta (entendimento compartilhado dos princípios morais e das práticas). Este é o quinto em uma série de seis dhammas ou virtudes necessárias para viver juntos em harmonia. Na nossa era do amor livre, devemos examinar a importância de práticas e princípios morais compartilhados. Existe um caminho do meio entre a negligência moral e a autocomplacência individualista, de um lado, e a imposição moralista das crenças morais de um grupo a outros, sem a completa participação de todos na formulação e no monitoramento. Os outros cinco dhammas neste conjunto são a solidariedade em relação a todos através do corpo, da fala e da mente; partilha dos ganhos materiais; e o entendimento comum sobre o que constitui a visão correta.

Avaliando o que Funciona

Assim como acontece com o Dhamma, o Vinaya é essencialmente uma questão de prática e realização. Para nos assegurarmos que a abordagem discutida aqui será prática, devemos nos questionar acerca dos seus resultados. Podemos, então, observar os frutos que essa abordagem deu e fazer os ajustes necessários. Isso é especialmente importante nos momentos de transição, onde a experimentação é necessária. Não podemos apenas imaginar essas coisas intelectualmente, elas têm de ser testadas na vida real. Dhamma-Vinaya é sempre um diálogo entre os textos que nós cultivamos e a nossa prática diária daquilo que eles nos ensinam, assim como entre a tradição e a realidade presente.

Para apoiar a avaliação prática , sugiro algumas questões para reflexão:

* Qual o seu efeito na nossa própria saúde?
* Qual o seu efeito na nossa família e nas pessoas amadas por nós?
* Qual o seu efeito no nosso trabalho e no nosso ambiente de trabalho?
* Qual o seu efeito na nossa comunidade, vizinhança e grupos sociais dos quais participamos?
* Qual o seu efeito no nosso ecossistema – em nível local, regional, nacional e global?
* Qual o seu efeito na prática do Dhamma?

* concentração e tranquilidade
* emoções
* comportamento
* pensamento e crenças
* apego ao “eu ” e ao ”meu”

Conclusão

O objetivo deste ensaio tem sido o de levantar questões e sugerir alguns meios pelos quais possamos encontrar respostas relevantes, efetivas e realistas, mesmo que elas sejam provisórias. Não tenho interesse em dizer aos outros como eles deveriam viver. Para aqueles que tomaram refúgio nos ensinamentos do Buda e no seu modo de vida, existe um importante lugar para o Vinaya e para a sila. De uma maneira excessiva, esses ensinamentos se transformaram, com o passar do tempo, em fórmulas e estão agora confrontados com as rápidas mudanças sociais, ecológicas e tecnológicas. A necessidade de repensar é grande. Espero que este ensaio contribua, de alguma maneira, para o trabalho necessariamente duro e criativo que se estende diante de nós e das muitas gerações que virão.

Como foi dito antes, espero desenvolver as ideias contidas neste ensaio. Portanto, os leitores sintam-se encorajados a considerar as ideias e perspectivas aqui contidas como sempre abertas e necessitando da sua ativa participação. Por favor, enviem comentários, sugestões e referências que adicionarão carne, coração e ossos a essas ideias e reflexões. Esperamos, especialmente, expandir as seções relativas à aplicação concreta dos princípios mais importantes. Quaisquer sugestões baseadas em experiências pessoais serão da maior ajuda.(14)



NOTAS:


1. “Nunks” é bom neologismo (em inglês, NT) em matéria de gênero. Escreverei “monges” ao discutir o contexto tradicional no qual as monjas foram relegadas e o registro oficial. Quando escrever sobre alternativas para nossa época, usarei “nunks” para me referir a todas e todos os monásticos plenamente ordenados, bhikkhunis e bhikkhus igualmente. Não abordarei diretamente sobre algumas formas ambíguas, como as Maechi, na Tailândia, às quais a mulher foi limitada na maioria dos países Budistas.

2. Aqui, escrevendo sobre tradição, meu background é relevante. Eu sou um bhikkhu (monge, NT) ordenado no interior do budismo theravada tailandês. A maior parte do que escrevo é baseada nas minhas experiências no Golfo do Sião e é mais aplicável em outros países de tradição theravada. Entretanto, eu tenho muito contato com budistas de outros países e tenho re-esperança que a maioria do que escrevi é aplicável a eles, em termos gerais. Como estou envolvido na fundação de comunidade monástica que seja afirmativa em relação ao gênero e não sectária, a aplicabilidade do Vinaya no Ocidente e para praticantes leigos é, neste momento, uma importante preocupação pessoal.

3. Interessante: o fato de que as bhikkhunis (no Theravada) terem 311 treinamentos enquanto os bhikkhus têm apenas 227 é frequentemente ignorado. Isso não quer dizer que as monjas sejam superiores aos monges, ao que parece.

4. Os “quatro significados de Dhamma”, sintetizados neste parágrafo foram frequentemente discutidos pelo professor-raiz, Buddhadasa Bhikkhu. Estão disponíveis traduções inglesas em áudio e transcrições – mas não foram ainda publicados.

5. Por exemplo: o Anapanasati Sutta (M.118), Satipatthana Sutta (M. 10), MahaSatipatthana Sutta (D. 22), Mahaparinibbana Sutta (D. 16), e Cakkavatti Sutta (D. 26)

6. Na abertura do Sutta sobre os Fundamentos da Atenção Plena lê-se:

“2. Bhikkhus, este é o caminho direto para a purificação dos seres, para superar a tristeza e a lamentação, para o desaparecimento da dor e da angústia, para alcançar o caminho verdadeiro, para a realização de Nibbana – isto é, os quatro fundamentos da atenção plena.

3. Quais são os quatro? Aqui, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo, ardente, plenamente consciente e com atenção plena (viharati atapa sampajano satima), tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo (vineyya loke abhijjhadomanassam). Ele permanece contemplando as sensações como sensações, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece contemplando a mente como mente, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.”

Nota do tradutor: Usei a versão brasileira do site www.acessoaoinsight.net . Ela difere um pouco da tradução feita por Santikaro. O tradutor brasileiro preferiu usar a expressão “colocar de lado” (mais de acordo com a versão em inglês de Thanissaro Bikkhu) ao invés do verbo “remover”, que tornaria o texto um pouco mais fiel ao que Santikaro quis enfatizar. Mas o leitor agora já está esclarecido.

7. Por favor, note que as ações físicas e as verbais, assim como o meio de vida, são abordados por 3 fatores da sila do nobre caminho óctuplo. Alguns budistas podem ter se acostumado a pensar em sila como sinônimo de Dhamma; na verdade, sila encontra correspondência melhor com o Vinaya. Portanto, podemos observar que o nobre caminho óctuplo, os três treinamentos (sikkha) e o Caminho Meio são equivalentes ao Dhamma-Vinaya. Novamente, vemos que o Vinaya é necessário para a liberação e verdadeira felicidade e para a cessação de dukkha.

8. Eles, de maneira conveniente, fazem vista grossa ao fato das bhikkhunis terem mais regras que os bhikkhus, mas como as bhikkhunis têm desaparecido na maioria dos países budistas essa contradição raramente se explicitou. Eles também ignoram a maioria das 227 regras.

9. Isto é, quando tal status elevado existe. Apesar de assegurado em alguns países budistas, esses monásticos na China e em outros lugares têm sido frequentemente expostos à perseguições. Nos dias de hoje, a situação política de alguns países – de modo mais flagrante em Myanmar e Tibete - indica que existe tanto a ameaça quanto manipulação de monásticos, apesar de existirem ainda alguns vestígios de status.

10. É claro, nenhuma linha divisória é absoluta. Alguns chimpanzés são conhecidos por usar instrumentos, por exemplo, um galho pode ser inserido num formigueiro ou cupinzeiro para conseguir porções suculentas.

11. Eu recomendo fortemente o livro de David Noble “The Religion of Technology” (A Religião da Tecnologia, pela editora Penguin)

12. Mais abaixo, na próxima seção, explorarei certos aspectos da tecnologia digital com maior detalhe.

13. Note que treinamentos específicos são estabelecidos, explicitamente, em apoio ao Vinaya. Portanto, o Vinaya significa mais do que esses treinamentos ou “regras”.

14. Algumas ideias e perspectivas expressas neste ensaio nasceram de discussões – diretas ou por telefone ou, ainda, por e-mail – entre eu e Ven. Thubten Chodron. Não apenas essas discussões contribuíram para algumas partes do texto, elas me ajudaram a mudar substancialmente meu entendimento acerca desse assunto. Elas tiveram um papel fundamental para nós dois, por que ambos tentamos fundar conjuntamente uma nova comunidade monástica na qual monjas e monges fossem iguais e a ideia de hierarquia fosse minimizada. Para maiores informações sobre essa nova comunidade, por favor, visite http://www.liberationpark.org.

Agradeço também a família Faris de Weston, Missouri, pela comida, abrigo, amizade e pelas belezas naturais que me cercavam enquanto escrevia este ensaio.

Finalmente, obrigado a Khun Pibop por sua paciência insistente para que eu terminasse este ensaio.

Santikaro Bhikkhu
Sravasti Abbey @ Liberation Park
E-mail: santikaro@suanmokkh.org

Texto retirado e traduzido do site do Buddhist Peace Fellowship

PS: Solidariedade = Compaixão (ver Nota do Tradutor)

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