Cinco Treinamentos da Plena Consciência - Nova Versão
Nutrição e Cura
É um blog secundário de textos que alimentam o blog principal sobre Thich Nhat Hanh e sua comunidade: http://interserblog.blogspot.com
Plum Village é o centro internacional da Ordem fundada por Thich Nhat Hanh. É um monastério composto de vários monastérios menores que ficam localizados uns próximos dos outros...Ao todo temos Upper Hamlet/Aldeia de Cima, Son Ha/Templo do Sopé da Montanha, Lower Hamlet/Aldeia de Baixo, New Hamlet/Aldeia Nova, West Hamlet/Aldeia Oeste, Middle Hamlet/Aldeia do Meio. Os únicos que são habitados por monásticos o tempo todo são: Upper Hamlet e Son Ha (por monges) e Lower Hamlet e New Hamlet (por monjas), os outros são ocupados ocasionalmente...Cada monastério é um Centro de Prática e funciona de maneira coordenada com os outros e com atividades semanais conjuntas.
Plum Village, portanto é um complexo formados por Centros de Práticas especializados em organizar retiros para monges, monjas, leigos e leigas. Os retiros acontecem durante todo o ano, com exceção de uns poucos dias - que são os dias de folga para os monásticos...
Os dois períodos do ano mais concorridos são o Retiro de Inverno (4 meses) e o Retiro de Verão (1 mês), sendo que este último é o maior em número de pessoas, consegue aglutinar milhares de pessoas de vários países do mundo, principalmente jovens.
Plum Village também é um centro de difusão do que se convencionou chamar de "budismo socialmente engajado", ou seja, do budismo empenhado na transformação do mundo através da transformação das pessoas e estimulando uma nova cultura de relacionamente entre homens, mulheres e natureza, baseada na solidariedade e na compreensão de que tudo contém o todo (o que Thay chama de interser, interbeing) o que nos torna interconectados e interdependentes com todas as coisas e seres vivos.
Em geral as atividades são dadas em inglês, francês ou vietnamita, sempre dependendo de disponibilidade de tradução. Mas a língua franca é o inglês. Em determinadas oportunidades é possível haver traduções simultâneas para o alemão, holandês, italiano e para o espanhol.
As atividades são variadas e mesmo as atividades mais rotineiras, como a meditaçao sentada e andando, variam de acordo com o dia. Em alguns dias se acorda de madrugada, às 5:00, outros às 6:00 outros e outros dias, como o chamado "lazy day", dia da preguiça em tradução livre, pode-se acordar à hora que quiser e não há nada estipulado, nem as refeições...
Normalmente as refeições (vegetarianas) são feitas com um período de silêncio e depois das refeições tem o trabalho comunitário...de manhã e à tarde...
Algo que chama a atenção de quem vai pela primeira vez é o fato de que sempre que algum sino toca (e eles tocam muito) todos devem parar o que estão fazendo, por alguns segundos, e retornar sua atenção à respiração.
Outras atividades rotineiras são várias dinâmicas de grupo com focos diferenciados: compartilhar de alegrias, resolução de conflitos ou de sentimentos não-saudáveis entre as pessoas, festinhas silenciosas (ou quase), cerimônias do chá, encontros na floresta ou nas salas de meditação ou nos quartos - todas muito leves e sem muita formalidade (a única formalidade é o uso do sino para regular o início, desenvolvimento e o fim das atividades.
Outro detalhe interessante é que Plum Village não é um lugar de estudo, mas de prática. Para aqueles que quiserem estudar sutras e se tornarem versados na literatura budista, Plum Village não é o melhor local. As práticas estão firmemente ancoradas no que há de melhor e profundo da psicologia budista e @s visitantes podem entrar em contato com ela através das diversas atividades de meditação (sentada, andando, trabalhando, comendo, tomando chá, contemplando a natureza etc) e das atividades de partilha de experiências, de dores, de alegrias, amizade e solidariedade - tudo voltado para esse retorno ao nosso eu ( ou ao nosso não-eu) que nos torna capazes de nos transformarmos e transformar as coisas à nossa volta.
Samuel Cavalcante
Este pedaço de pão é um embaixador do cosmos inteiro.
Comer uma refeição juntos é uma prática meditativa. Devemos tentar oferecer nossa presença para cada refeição. Podemos começar a praticar já no momento em que nos servimos, refletindo sobre quantos elementos, como a chuva, o sol, a terra, o ar e amor se reuniram para constituir essa refeição. De fato, através da comida podemos ver que o universo inteiro está sustentando nossa existência.
Ficamos conscientes de toda a comunidade enquanto nos servimos e devemos pegar apenas aquela quantidade que é necessaŕia para nós. Antes de comer, convidamos o sino a soar por três vezes, desfrutamos da nossa respiração e praticamos as seguintes cinco contemplações:
- Esta comida é uma dádiva da terra, do céu, de numerosos seres vivos e de muito trabalho duro;
- Que possamos comer com plena consciência e gratidão para que mereçamos receber o alimento em nosso corpo;
- Que possamos reconhecer e transformar nos formações mentais não-saudáveis, especialmente nossa avidez, e aprendamos a comer com moderação;
- Que possamos manter viva a nossa solidariedade comendo de modo a reduzir o sofrimento dos seres vivos, proteger nosso planeta e impedir o processo de aquecimento global;
- Aceitamos esta comida como uma maneira de nutrir nossa fraternidade, fortalecer nossa comunidade (Sangha) e alimentar o nosso ideal de servir a todos os seres.
Devemos comer com calma, mastigando bem cada porção, no mínimo 30 vezes, até que a comida se liqüefaça. Fazer isso ajuda o nosso processo digestivo. Vamos aproveitar cada pedaço de nossa comida e a presença de nossos irmãos e irmãs de dharma à nossa volta. Vamos nos estabelecer no momento presente, comendo de tal forma que a solidez, a alegria e a paz sejam possíveis durante a refeição.
Ao comermos em silêncio, a comida se torna real com a nossa plena consciência e ficamos totalmente atentos ao processo de nutrição acontecendo. Para aprofundar nossa prática de comer com plena consciência e alimentar a atmosfera de paz, permanecemos sentados durante o período de silêncio. Depois de vinte minutos de silêncio, convidamos o sino a tocar novamente duas vezes. Nesse momento, podemos conversar algo saudável como nossos amigos e começar a nos levantar da mesa.
Ao finalizar a refeição, dedicamos alguns momentos para tomarmos consciência de que acabamos de comer, de que o nosso prato está vazio e de que nossa fome está saciada. Assim, enchemo-nos de gratidão ao percebermos como somos afortunados por termos uma refeição para comer, sentimento que nos apóia no nosso caminho de amor e sabedoria.
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Como praticar os Três Toques da Terra:
Em pé respire conscientemente três vezes. Leia o Primeiro Toque da Terra - uma boa alternativa é ter o texto gravado, assim é mais fácil se concentrar nas palavras e ter as mãos livres e relaxadas. Depois de ouvir ou ler o texto junte as palmas da mãos, eleve-as juntas para perto da testa e depois abaixe-as lentamente e sempre juntas, passando-as próximo da boca e do coração (simbolizando as ações da mente, do corpo e da fala) e, sem se desolocar, ajoelhe-se, ponha a sola dos pés para cima, incline-se (apoiando-se nas mãos) até que a testa encoste no chão (se não conseguir não tem problema). Depois vire as palmas das mãos para cima, ao lado da cabeça, relaxe e pratique mais três respirações conscientes, entregando todo o peso de seu corpo e de sua mente, todas as atribulações e preocupações à nossa Mãe Terra.
Após as terceira respirações ponha-se de pé novamente (e sem se deslocar) e prepare-se para o próximo Toque.
Esta é uma prática bastante utilizada pela tradição do ven. Thich Nhat Hanh como meio de nos tornarmos mais conscientes da nossa herança, dos nossos ancestrais e da nossa conexão com todas as formas de vida.
Ao tocar a Terra nos beneficiamos da sua solidez, energia e estabilidade e por sua vez entregamos a seus cuidados todas as nossas preocupações, raiva, atribulações, ansiedades e medo.
Colegiado Buddhista Brasileiro
Comunicado 001/2008 - Sobre Dana e a Orientação de Dharma
Estimados praticantes, estudiosos e simpatizantes buddhistas,
O Colegiado Buddhista Brasileiro (CBB), entidade voltada para o
favorecimento do diálogo entre as tradições buddhistas e o mais
correto e saudável exercício de entendimento sobre os fundamentos do
Dharma no Brasil, gostaria de apresentar a todos os interessados sua
posição acerca de questões relevantes que têm sido ultimamente
levantadas por diferentes pessoas ao CBB sobre a natureza do
exercício de Dana e a real condição de autoridade na orientação do
Dharma por diferentes monásticos ou estudiosos seculares.
Este comunicado, no entendimento da diretoria fundadora do Colegiado,
se faz necessário neste momento devido ao constante fluxo de dúvidas
apresentadas diretamente ao CBB referentes a episódios associados ao
exercício de eventos, cursos ou práticas buddhistas, onde a própria
competência de conhecimento ou experiência na orientação buddhista
por parte dos organizadores e o modo de solicitação dos recursos de
contribuição para tais eventos são questionados.
O CBB apresenta suas considerações sobre o assunto sem, no entanto,
pretender manifestar-se de forma legisladora ou julgadora em relação
à liberdade de atuação das escolas e centros buddhistas tradicionais,
ou de estudiosos e pesquisadores não-buddhistas que pretendam se
posicionar sobre o tema buddhista de forma acadêmica ou histórica.
Nosso objetivo, muito mais simples, é apenas esclarecer aos
simpatizantes e praticantes pouco experimentados sobre os fundamentos
do exercício ético e moral no buddhismo, deixando a cada um a
responsabilidade de ponderar, analisar e atuar da forma mais
consciente e amadurecida possível no momento em que irão decidir
sobre sua participação em eventos e práticas, ou filiar-se a grupos e
espaços de Dharma.
Para tal, o Colegiado Buddhista Brasileiro apresenta as seguintes
argumentações:
I. Sobre o exercício de Dana
1. O exercício de Dana (Generosidade, Doação, Apoio), na tradição
buddhista, representa essencialmente a ação consciente e atenta de
ajuda e contribuição (seja material, de tempo ou outras) para que o
Dharma possa ser estudado e exercido sob condições úteis e
abrangentes a todos. Em Dana temos não somente a ação de ajuda e
proteção (física, psicológica ou social) a pessoas em necessidade,
mas também a ação justa e honesta para que o Dharma seja divulgado
sob as bases tradicionais da ética buddhista, na forma e apoio às
instituições e seu corpo monástico ou dos centros e espaços de
prática.
2. É preciso fazer distinção entre monges solicitarem contribuição e
centros cobrarem por atividades. Monges vivem de doações, são
sustentados pelo mosteiro, e não deveriam pedir dinheiro em troca de
ensinamentos. Centros atuam de forma diferente; sendo espaços sem
vínculo formal com as regras monásticas (e muitas vezes sustentados
por praticantes seculares), eles dependem de uma organização
financeira onde as contribuições servem para favorecer as condições
materiais dos professores e do próprio ambiente de estudos, os quais
ali estão para facilitar o ensino do Dharma.
3. Assim, é igualmente necessário fazer a distinção correta entre um
centro solicitar contribuição para realizar retiros, cursos etc (algo
perfeitamente compreensível em relação às necessidades de despesas),
e monásticos que porventura venham a pedir dinheiro. Um monge adota
um estilo de vida e pode alertar as pessoas sobre o Dana, mas as
pessoas não oferecem Dana para o monge ensinar, e sim para permitir
que o monástico possa se manter na sua condição de monge ou monja. O
dinheiro, portanto, não é dado ao monge pessoalmente, e sim à
instituição buddhista. O Buddhismo não faz barganhas com o Dharma; as
organizações buddhistas não pedem dinheiro em troca da promessa de
sabedoria, cura, iluminação ou qualquer tipo de prêmio espiritual. O
Dana é solicitado (e deve ser conscientemente oferecido) para que as
condições materiais e humanas das instituições possam se manter, e
assim a prática possa sempre ser valorizada.
4. Portanto, os praticantes e estudantes precisam estar atentos ao
fato de que as solicitações de contribuição não podem ser feitas de
forma abusiva ou voltadas para lucro pessoal de monges ou monjas. As
solicitações de contribuição feitas pelos centros devem ser justas e
adequadas às suas necessidades, e jamais podem se constituir
excessivas. Os coordenadores dos centros de Dharma, sendo pessoas
honestamente comprometidas com a prática ética buddhista, sempre
estarão à disposição para facilitar os modos de contribuição dos
praticantes, considerando-se as possibilidades e limites financeiros
de todos.
5. Os praticantes e interessados precisam compreender que são, eles
mesmos, livres para contribuir ou não. Ninguém pode exigir de outrem
participação em eventos buddhistas ou centros de prática; a tradição
buddhista não pratica pressão psicológica, material ou espiritual
para manter pessoas entre seu corpo de estudantes ou praticantes. Ao
mesmo tempo, nenhuma pessoa deveria se subordinar a qualquer espaço
buddhista na pretensão de que, assim agindo, estarão garantindo algum
tipo de retorno espiritual ou benefício místico. A prática do Dharma
ocorre de forma livre, consciente e madura, ou então jamais será
possível.
II. Sobre a correta orientação de Dharma no Brasil
6. Em relação à competência e autoridade daqueles que se apresentam
como professores ou orientadores, é preciso esclarecer que a tradição
buddhista brasileira possui uma profunda capacidade de formação de
monásticos ou leigos dignos de serem respeitados como orientadores
sérios e competentes. Entretanto, é preciso que as pessoas saibam
reconhecer tal competência através da análise e observação atenta das
ações destes professores de Dharma. Estes sempre serão pessoas
coerentes em suas ações éticas e morais. Embora muitas vezes firmes e
exigentes, também saberão ser pacientes e compreensíveis, sem nunca
agir de forma irresponsável e arrogante.
7. O ensino correto buddhista se dá principalmente através do
exemplo, e da dedicação dos seus professores com o próprio
treinamento em Plena Consciência, base dos ensinos de Shakyamuni
Buddha. Neste sentido, pretensos professores de Dharma jamais poderão
agir de forma autoritária, agressiva, preconceituosa ou abusiva em
relação a seus alunos e praticantes. Por outro lado, cabe aos
praticantes reconhecer e respeitar a experiência e sabedoria dos
orientadores – monásticos ou leigos – quando estas virtudes forem
evidentes nas palavras e atos destas pessoas, agindo desta forma com
respeito e atenção aos seus conselhos e posição.
8. Ninguém no âmbito da orientação buddhista deve se
autodenominar "Mestre" ou assim deve ser chamado apenas por envergar
manto monástico ou, sendo leigo, apresentar-se como alguém
entronizado em sabedoria mística ou semelhante. O título de Mestre se
constitui de grande significado, e somente é dado àqueles que
representam no buddhismo o mais digno exemplo de amadurecimento na
prática contemplativa e sabedoria no exercício do Dharma. Os
praticantes precisam ficar atentos a pessoas que vaidosamente se
autodenominam mestres ou líderes místicos, ou que pretendam criar em
torno de si grupos de discípulos sem realmente demonstrar os mais
básicos fundamentos em coerência e comportamento. Professores sérios
tem linhagem clara e um mestre de escola tradicional que os
autorizou; a citação de linhas múltiplas e extensos currículos de
diferentes correntes místicas é um quesito a ser olhado com extremo
cuidado, para não dizer com precaução.
O CBB, ao apresentar tais ponderações, espera ter contribuído para
conscientizar todos os simpatizantes e praticantes, facilitando sua
reflexão atenta no momento em que entrarem em contato com
organizações buddhistas ou monásticos pertencentes às tradições
reconhecidas.
O Colegiado se mantêm aberto a dar mais esclarecimentos a todos os
interessados, através de seu e-mail oficial em: cbb@bodhimandala.com
Em nome do Dharma,
Assina o Sr. Presidente do Colegiado Buddhista Brasileiro,
Prof. Shaku Hondaku (Maurício Ghigonetto)
Assinam os membros da Diretoria Fundadora do Colegiado Buddhista
Brasileiro,
Rev. Shaku Haku-Shin (Wagner Bronzeri)
Monge Meihô Genshô (Petrúcio Chalegre)
Prof. Dhanapala (Ricardo Sasaki)
Prof. Tam Huyen Van (Claudio Miklos)
Cuidando do Ambientalista
Os Sinos da Plena Consciência